Ipea reduz previsão do PIB de 2022 para 1,8% por alta da inflação e aperto monetário
Instituto mantém expectativa de avanço de 4,8% para este ano em meio ao processo de imunização contra o novo coronavírus
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para baixo a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 de 2% para 1,8%, segundo a Visão Geral da Conjuntura divulgada nesta quinta-feira, 30. Para este ano, a entidade manteve a expectativa de alta de 4,8%, com o desempenho atrelado ao avanço da vacinação contra a pandemia do novo coronavírus. O corte na expectativa de 2022 foi motivado pela persistência da inflação em patamar elevado e a redução poder de compra das famílias. O Ipea também indicou a necessidade de elevação dos juros pelo Banco Central mais forte do que o previsto como reflexo da queda no otimismo. “Em agosto, o endividamento das famílias brasileiras atingiu o pico histórico. Por outro lado, o crescimento robusto do setor agropecuário e o aumento da disponibilidade de caixa dos governos estaduais — que poderá ser utilizado para ampliar os investimentos — contribuíram para que a revisão para o próximo ano tenha sido pouco significativa”, informou a instituição. No curto prazo, os pesquisadores estimam a manutenção de recuperação das atividades com o avanço das campanhas de imunização. O Ipea prevê crescimento de 0,1% do setor de serviços em agosto, na comparação com o mês anterior. A indústria deve registrar alta de 0,6%, enquanto o comércio varejista tem projeção de recuar 1,1%. Na comparação com o mês de agosto do ano passado, a previsão é de alta em todos os segmentos: setor de serviços (+ 15,7%), produção industrial (+ 1,2%) e comércio varejista (+ 2%).
Para este ano, o Ipea estima que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vá a 8,3%. A autoridade monetária persegue a meta de 3,75%, com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A previsão aponta para a desaceleração do indicador em 2022, com avanço de 4,1%. No ano que vem, a meta do BC é de 3,5%, podendo se ficar entre 2% e 5%. A prévia da inflação foi a 1,14% em setembro — o maior patamar desde 1994 —, e a acumulou avanço de 10,05% em 12 meses. Os técnicos do instituto também avaliaram o cenário fiscal brasileiro, com perspectiva de melhora nas contas públicas neste ano. O otimismo, no entanto, não se amplia para o ano que vem. “Para 2022, persistem incertezas, a principal das quais está associada à magnitude do esforço de contenção de despesas requerido para a obediência do teto de gastos da União”, afirmou a entidade.
O Banco Central também divulgou nesta quinta-feira projeções para o desempenho da economia. A autoridade monetária revisou a expectativa do PIB de 4,6% para 4,7% em 2021. Para o ano que vem, no entanto, a estimativa é alta de 2,1%. A entidade justifica a revisão do desempenho de 2021 pelo resultado do PIB “ligeiramente acima do esperado” no segundo trimestre e “modesta redução da projeção do crescimento no terceiro trimestre”. Entre abril e junho, a economia doméstica retraiu 0,1%. Segundo a autoridade monetária, o arrefecimento da pandemia do novo coronavírus e o aumento dos níveis de confiança favoreceram a retomada do mercado de trabalho. “A normalização da cadeia de insumos industriais, mesmo que apenas gradual, também deve ter efeitos positivos sobre o crescimento. As perspectivas para agropecuária e indústria extrativa, em ambiente de preços internacionais de commodities ainda elevados, também são positivas”, informou. Apesar da visão mais otimista, o Banco Central cita o agravamento da crise hídrica — especialmente a possibilidade de apagões —, a evolução da pandemia do novo coronavírus e a piora da trajetória fiscal como “riscos relevantes” no radar.
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