Dólar vai a R$ 5,62 com aceleração dos juros e risco fiscal no radar; Bolsa sobe

Investidores analisam impactos que a alta da Selic trará à retomada da economia; após ser adiada duas vezes, PEC dos Precatórios, que muda regras no teto de gastos, deve ser votada apenas na semana que vem

  • Por Jovem Pan
  • 28/10/2021 11h58 - Atualizado em 28/10/2021 16h56
Antara Foto/Hafidz Mubarak/via Reuters Mão segura diversas cédulas de dólar Dólar avança com pressão internacional em meio entraves da guerra no Leste Europeu

Dólar e Bolsa operam em alta nesta quinta-feira, 28, após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em acelerar a alta dos juros e elevar a Selic a 7,75% ao ano com acréscimo de 1,5 ponto percentual, e sinalizar novo aporte de mesma magnitude na reunião de dezembro, a última de 2021. O resultado deve  deixar a taxa de juros em 9,25% e indica que o Banco Central deve levar a Selic para dois dígitos no início do próximo ano pela primeira vez desde 2017. Por volta das 11h50, o dólar operava com alta de 0,90%, a R$ 5,605. A divisa norte-americana chegou a bater a máxima de R$ 5,625, enquanto a mínima não passou de R$ 5,563. O câmbio encerrou a véspera praticamente estável, com queda de 0,3%, cotado a R$ 5,555. Seguindo o clima positivo nos principais mercados globais e impulsionada pelos resultados dos balanços corporativos, o Ibovespa, referência da Bolsa de Valores brasileira, operava com alta de 0,11%, aos 106.482 pontos. O pregão encerrou esta quarta-feira, 27, também próximo da estabilidade, com leve recuo de 0,05%, aos 106.363 pontos.

A elevação da Selic a 7,75% deixa a taxa de juros no maior patamar em quatro anos e acompanha a escalada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o medidor oficial da inflação brasileira. O indicador fechou setembro com alta de 1,16% — o registro mais expressivo desde 1994 —, e somou acúmulo de 10,25% em 12 meses. Alimentada pelo encarecimento da energia elétrica e dos combustíveis, a variação de preços não indica dar trégua. A prévia de outubro foi a 1,20%, o maior resultado desde 1995, enquanto a soma dos últimos 12 meses encerrou com avanço de 10,34%. Em nota, o BC disse que o agravamento do cenário fiscal impacta no risco de desancoragem das expectativas de inflação. “Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico”, informou. Para analistas, o agravamento do risco fiscal e o aumento da pressão inflacionária após as tratativas de mudança no teto de gastos exigem uma escalada agressiva nos juros, o que deve levar a Selic para dois dígitos já no início de 2022. O colegiado também reconheceu que o avanço deixa os juros em “território contracionista”, ou seja, quando prejudicam a atividade econômica, mas que “esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante”.

Ainda na pauta da inflação, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) ficou em 0,64% no mês de outubro. Com o resultado, a taxa, considerada a “inflação do aluguel“, acumula alta de 16,74% no ano e de 21,73% em 12 meses. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgados nesta quinta-feira, 28, o índice havia registrado deflação de 0,64% em setembro. O mercado também segue acompanhando os desdobramentos em Brasília para a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios na Câmara dos Deputados. A votação já foi adiada duas vezes nessa semana e deve ser realizada apenas na próxima quarta-feira, 3, em meio às discussões com governistas e oposição para garantir a aprovação da medida. O parecer do relator, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), já foi aprovado pela comissão especial da Câmara na última quinta-feira, 21. O texto determina um limite aos pagamentos das dívidas reconhecidas da União, traz mudanças no teto de gastos e permite a abertura de R$ 83 bilhões no Orçamento de 2022 para o custeio do Auxílio Brasil.

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