Guedes e Campos Neto são vinculados a empresas em paraísos fiscais, revela consórcio

Vazamento de dados mostrou que ministro da Economia é sócio de offshore, enquanto presidente do BC manteve empreendimento até agosto de 2020; ambos negam irregularidades

  • Por Jovem Pan
  • 04/10/2021 14h00 - Atualizado em 04/10/2021 18h50
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO Paulo Guedes em primeiro plano e Roberto Campos Neto em segundo plano Ministério da Economia sofre nova debandada

O ministro da Economia, Paulo Guedes, possui uma empresa registrada em um paraíso fiscal, enquanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, era sócio de outro empreendimento fora do país até agosto de 2020, revelou documentos divulgados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês). Também conhecidos como Pandora Papers, os vazamentos mostraram que centenas de líderes mundiais, além de milhares de empresários, são sócios de offshores, como são chamadas empresas hospedadas em países ou territórios com taxação baixa ou isenção de impostos. A legislação brasileira permite a abertura de empresas em paraísos fiscais, desde que os dados sejam repassados à Receita Federal. O Código de Conduta da Alta Administração Federal, no entanto, proíbe que servidores de alto escalão mantenham investimentos, dentro ou fora do país, que possam ser afetados “por decisão ou política governamental a respeito da qual a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo”.

De acordo com os dados, as empresas de Guedes e Campos Neto foram abertas antes de eles ingressarem no governo, em 2019. A de Campos Neto, no entanto, foi fechada em agosto de 2020. Os dois negam irregularidades. Em nota, o ministro da Economia afirmou que as empresas foram declaradas à Receita Federal e aos órgãos competentes, e que se desvinculou da atuação no mercado privado desde que assumiu o cargo. O chefe da equipe econômica também afirmou que respeitou integralmente a legislação aplicada aos servidores públicos. Também em nota, o presidente do Banco Central disse que o empreendimento foi relatado ao Fisco e que não houve envio de valores para a empresa desde que ele assumiu o comando da política monetária nacional. Campos Neto ainda afirmou que a empresa foi informada à Comissão de Ética Pública da Presidência e que a sua participação foi divulgada aos senadores durante a sabatina necessária para ser aprovado ao comando do BC.

Os documentos revelaram que Guedes é dono da Dreadnoughts International Group, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, famoso paraíso fiscal. A empresa, informa o vazamento, foi aberta em 2014 e conta com a mulher e filha do ministro como sócios. Os dados apontam que até 2015, quando a empresa totalizou quase US$ 9,5 milhões em investimentos, não são registradas movimentações financeiras. Já Campos Neto aparece como sócio da Cor Assets S.A., sediada no Panamá, também famoso pela flexibilização tributária. Segundo os documentos, o presidente do BC abriu a empresa em 2004, com capital de US$ 1,09 milhão. A empresa, porém, foi encerrada em agosto de 2020. Campos Neto foi aprovado para assumir o BC em fevereiro de 2019.

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