Inflação acumulada em setembro vai a 10,25% e é a maior em 5 anos

É a primeira vez que o IPCA no acumulado em 12 meses alcança dois dígitos desde fevereiro de 2016; puxado pelo encarecimento da energia, variação do mês chega a 1,16%, o maior registro desde 1994

  • Por Jovem Pan
  • 08/10/2021 09h11 - Atualizado em 08/10/2021 11h01
IPCA ACUMULADO 12 MESES SET

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a 1,16% em setembro, segundo números divulgados nesta sexta-feira, 8, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior variação para o mês desde 1994, quando registrou alta de 1,53%. O resultado leva o indicador oficial da inflação doméstica a 10,25% no acumulado de 12 meses, a primeira vez que o índice atinge dois dígitos desde fevereiro de 2016, quando foi a 10,36% Desde o início do ano, o IPCA acumula alta de 6,90%. Em setembro de 2020, a inflação avançou 0,64%. O saldo acumulado se descola ainda mais da meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central (BC) em 2021, com variação de 1,5 ponto percentual, ou seja, entre 2,25% e 5,25%. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), visto como a inflação dos mais pobres, avançou 1,20%, também o maior para o mês desde 1994. O indicador, que também é usado como referência para reajustes do salário mínimo e benefícios do INSS, acumula, no ano, alta de 7,21%, e em 12 meses, de 10,78%. Em setembro de 2020, a taxa foi de 0,87%.

Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em setembro, com destaque para habitação (2,56%). Mais uma vez, a alta dos preços foi puxado pelo encarecimento da energia elétrica, que registrou aumento de 6,46% em setembro. Em setembro, passou a valer a bandeira tarifária escassez hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos. “Essa bandeira foi acionada por conta da crise hídrica. A falta de chuvas tem prejudicado os reservatórios das usinas hidrelétricas, que são a principal fonte de energia elétrica no país. Com isso, foi necessário acionar as termelétricas, que têm um custo maior de geração de energia. Assim, a energia elétrica teve de longe o maior impacto individual no índice no mês, com 0,31 ponto percentual, acumulando alta de 28,82% em 12 meses”, afirma o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.

Os preços do gás de botijão (3,91%) também continuaram subindo em setembro. “A gente tem observado uma sequência de aumentos do GLP (gás liquefeito de petróleo) nas refinarias pela Petrobras. Há ainda os reajustes aplicados pelas distribuidoras. Com isso, o preço para o consumidor final tem aumentado a cada mês. Já foram 16 altas consecutivas. Em 12 meses, o gás acumula aumentos de 34,67%”, detalha Kislanov. O grupo dos transportes (1,82%) acelerou, mais uma vez, por conta dos combustíveis, que subiram 2,43%, influenciados, pela gasolina (2,32%) e o etanol (3,79%). Em 12 meses, a gasolina já aumentou 39,60% e o etanol, 64,77%. Também subiram no mês o gás veicular (0,68%) e o óleo diesel (0,67%).

Alimentação e bebidas (1,02%) tiveram uma leve desaceleração em relação a agosto (1,39%) por conta do recuo das carnes (-0,21%), após sete meses consecutivos de alta, o que acabou puxando a alimentação no domicílio para baixo (1,19%), frente ao resultado de 1,63% no mês anterior. “Essa queda das carnes pode estar relacionada à redução das exportações para a China. No início do mês, houve casos do mal da vaca louca na produção brasileira. Com a suspensão das exportações, aumentou a oferta de carne no mercado interno, o que pode ter reduzido o preço”, explica. Também recuaram os preços da cebola (-6,43%), do pão francês (-2,00%) e do arroz (-0,97%). “No caso do pão francês, tivemos uma redução no preço do trigo no mercado internacional, o que pode ter impactado esse resultado”, disse Kislanov.

A aceleração da inflação já era esperada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, que afirmou no início desta semana que o IPCA deve atingir o pico em setembro. Segundo Campos Neto, o indicador, que em janeiro acumulava alta de 4,56% em 12 meses, subiu mais rápido do que o esperado em meio aos choques causados pela alta dos alimentos e de preços administrados, principalmente a energia elétrica e os combustíveis. O avanço também era aguardado pelo mercado financeiro, que há 26 semanas eleva para cima as expectativas para a inflação. Segundo a previsão do Boletim Focus, o IPCA deve encerrar 2021 com alta de 8,51%. A constante revisão já contamina as expectativas de 2022. Para o ano que vem, a mediana da pesquisa do BC aponta para alta de 4,14%, na 11ª semana consecutiva de elevação.

A alta da inflação forçou o Banco Central a acelerar a trajetória de elevação dos juros. A autoridade monetária subiu a Selic a 6,25% ao ano ao acrescentar 1 ponto percentual na taxa na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), e afirmou que deve manter esse ritmo no próximo encontro. “A Selic vai terminar onde ela tiver que terminar para que consigamos atingir a nossa meta”, disse Campos Neto no fim de setembro. Na ata do encontro, a autoridade monetária sinalizou que o ciclo de elevação dos juros deve ser maior que o inicialmente projetado. O mercado estima que a Selic encerre 2021 a 8,25% ao ano, e passe para 8,5% em 2022. Na ata do último encontro, o BC sinalizou que a trajetória de alta deve se estender para além do previsto inicialmente. Segundo Campos Neto, a entidade mira atingir a meta de 2022, e já começa a observar os efeitos da taxa na inflação prevista em 2023.

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