Inflação sobe 0,93% em março e estoura o teto da meta do BC
Avanço é o maior para o mês em 6 anos; nos últimos 12 meses, IPCA acumula alta de 6,1%, acima do limite de 5,25% da autoridade monetária para 2021
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou novo avanço em março com alta de 0,93%, ante avanço de 0,86% em fevereiro, segundo números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 9. O indicador oficial da inflação brasileira acumula alta de 6,1% nos últimos 12 meses, acima do teto da meta de 5,25% perseguida pelo Banco Central para 2021, com centro de 3,75% e piso de 2,25%. Caso a meta não seja cumprida, o presidente do BC deve explicar as razões e apontar soluções para a normalização do índice. Assim como no mês passado, o encarecimento dos combustíveis (11,23%) foi o principal responsável pelo aumento do índice, puxando o setor de transportes para alta de 3,81% em março, ante 2,28% em fevereiro. No ano, a inflação acumula alta de 2,05%. Este foi o maior avanço para o mês de março desde 2015, quando o IPCA registrou alta de 1,32%. No mesmo mês em 2020, o índice foi de 0,07%. O IPCA-15, considerado a prévia da inflação, avançou 0,95% no mês passado, após alta 0,48% em fevereiro. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), visto como a inflação dos mais pobres, foi a 0,86% em março, acima do avanço de 0,82% registrado no mês anterior. Em 12 meses, o índice acumula alta de 6,94%.
Com alta de 11,26% gasolina foi, individualmente, o item que mais impactou o índice no mês. “Foram aplicados sucessivos reajustes nos preços da gasolina e do óleo diesel nas refinarias entre fevereiro e março e isso acabou impactando os preços de venda para o consumidor final nas bombas. A gasolina nos postos teve alta de 11,26%, o etanol, de 12,59% e o óleo diesel, de 9,05%. O mesmo aconteceu com o gás, que teve dois reajustes nas refinarias nesse período, acumulando alta de 10,46%, e agora o consumidor percebe esse aumento”, afirma o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov. O segundo maior impacto sobre o IPCA veio do grupo de habitação, com alta de 0,81%, puxada principalmente pelo avanço de 4,98% do botijão de gás, que acumula crescimento de 20,01% nos últimos 12 meses.
A alimentação, que foi a grande vilã do IPCA em 2020, segue desacelerando e registrou avanço de 0,13% em março. As variações anteriores foram de 1,74% em dezembro, 1,02% em janeiro e 0,27% em fevereiro. “Os alimentos tiveram alta de 14,09% em 2020, mas, desde dezembro, apresentam uma tendência de desaceleração. Alguns fatores contribuem para isso, como uma maior estabilidade do câmbio e a redução na demanda por conta da suspensão do auxílio emergencial nos primeiros meses do ano”, afirma Kislanov.
A inflação fechou 2020 com alta de 4,52%, o maior valor para o IPCA desde 2016, quando o índice encerrou com alta de 6,29%. Em 2019, a variação de preços foi de 4,31%. O índice ficou acima da meta de 4% perseguida pelo Banco Central — com margem para variar entre 2,5% e 5,5%. O valor veio acima do esperado pelo mercado. Economistas e entidades consultados pelo BC estimavam que o IPCA encerrasse 2020 com alta de 4,37%, segundo o último Boletim Focus divulgado em 2020. Para este ano, os agentes econômicos projetam alta de 4,81%.
O mercado manteve a expectativa para a Selic, o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação, em 5% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu ao aumentar a taxa de juros para 2,75% na reunião finalizada em 17 de março, o primeiro movimento de alta em quase seis anos. O reajuste veio acima das expectativas do mercado, que espera alta de até 0,5 ponto percentual. O colegiado afirmou que os indicativos de recuperação da economia brasileira não justificam mais a Selic em patamar reduzido e indicou que deve repetir a dose no próximo encontro entre 4 e 5 de maio e jogar a taxa para 3,5% ao ano.
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