Juros baixos no Brasil elevam interesse do investidor em ativos no exterior

Crise impulsiona crescimento de setores como o de tecnologia, que oferece mais oportunidades fora do Brasil; confira como investir em ativos no exterior

  • Por Camila Corsini
  • 09/08/2020 07h00
Reprodução bolsa de xangai Hoje, para investir em ativos de fora do Brasil, não é mais necessário abrir conta no exterior nem procurar uma corretora internacional

Taxa de juros no menor patamar da história, maior oferta de ativos e chance de investir em setores que performam melhor em momentos de crise. Esses são alguns dos motivos que despertaram o interesse do investidor brasileiro em apostar em ativos no exterior. Além disso, o número de pessoas físicas na B3 mais do que dobrou no último ano: em julho de 2019 a Bolsa de Valores tinha 1.334.353 CPFs cadastrados, agora são 2.824.239 — um aumento de mais de 111%. Isso representa, na visão de especialistas, uma tendência do investidor de buscar mais riscos. “O investidor brasileiro tinha um conforto muito grande na renda fixa. No passado, ele conseguia ganho expressivo sem necessariamente enfrentar a volatilidade dos mercados de maior risco — e, potencialmente, de maior retorno. Essa nova realidade traz um interesse não só no exterior, mas também em ativos de risco”, avalia Ernesto Leme, diretor comercial da Claritas Investimentos.

O atual cenário cria possibilidade de acesso a produtos no exterior que quase não são encontrados no mercado financeiro brasileiro — seja no que se refere ao mercado de ações como no da renda fixa internacional. “Há crescimento das motivações. Antes era difícil justificar porque o investidor deveria olhar para fora do Brasil, mas agora ele percebeu que aqui ele é privado de muitos tipos de investimentos por mais ou menos o mesmo risco. Durante a pandemia, o real foi uma das moedas mais desvalorizadas e isso assustou — aliado ao desalinhamento dos Três Poderes, que elevou o risco-Brasil. O investidor brasileiro se sentiu excluído”, explica Francine Balbina, analista de fundos internacionais da Spiti.

Os ativos no exterior são uma boa opção para diversificar a carteira — não é recomendado, porém, apostar apenas em um produto. “Quando você mescla investimentos de fora e do Brasil, você consegue, no longo prazo, ter retornos melhores, com menos perda e volatilidade da carteira, e isso são coisas que o investidor preza. Você fica melhor preparado para diversos tipos de crise”, diz Francine. Um bom exemplo é o ramo de tecnologia, que foi um dos setores com melhor performance durante a pandemia da Covid-19. Ele representa 26% do mercado americano, 17% do mercado japonês, 7% do europeu e apenas 0,3% do brasileiro. Muitas pessoas precisaram adaptar a rotina ao ambiente digital — desde o ensino à distância até consultas médicas virtuais — e empresas de delivery e de software, por exemplo, tiveram altas surpreendentes. 

Como investir em ativos no exterior

Hoje, para investir em ativos de fora do Brasil, não é mais necessário abrir conta no exterior nem procurar uma corretora internacional — apesar de muitas oferecerem planos para não residentes sem custo mínimo. Ou seja, é possível mandar apenas R$ 50 e comprar uma ação fracionada, por exemplo. Porém, desde 2015, as regras brasileiras foram alteradas gradualmente para permitir o acesso de pessoas físicas no mercado internacional sem muita burocracia. Uma das opções envolve gestores estrangeiros, que buscam cada vez mais o Brasil para captar dinheiro e investir 100% no exterior — seja em renda fixa, fundo de ações ou outras possibilidades. Além disso, existem também gestores brasileiros que recomendam o 80/20: 80% dos valores no Brasil e 20% no exterior. Apesar da porcentagem pequena, essa é considerada uma maneira de começar a se arriscar e se expor ao mercado internacional.

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