Nova queda do PIB escancara incapacidade de crescimento da economia brasileira

Atividades registram queda de 0,1% no terceiro trimestre após recuo de 0,4% nos três meses anteriores; resultado agrava expectativas para recuperação em 2022

  • Por Gabriel Bosa
  • 02/12/2021 11h26 - Atualizado em 02/12/2021 12h21
Pilar Olivares/Reuters Pessoas passam por tradicional centro de compras no Rio de Janeiro durante a pandemia do novo coronavírus Comércio ilegal na Zona Leste de São Paulo foi flagrado pela reportagem da Jovem Pan News

A retração de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre escancara a falta de capacidade de crescimento sustentável da economia brasileira, desafiada principalmente pela escalada da inflação ao patamar de dois dígitos e a aceleração dos juros. A alta próxima de 5% esperada para este ano é justificada pela recuperação do que foi perdido em 2020, quando o PIB despencou 3,9% — de acordo com dados revisados nesta manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) —, e não representa um avanço significativa além do nível pífio que a economia doméstica se encontrava antes da pandemia do novo coronavírus. Para o ano que vem, analistas do mercado estimam alta abaixo de 1% — apesar de o governo ainda manter a projeção em 2,1%. Este valor está em constante revisão para baixo, com instituições já prevendo PIB negativo. O resultado divulgado nesta terça-feira, 2, reforça o clima negativo após queda de 0,4% entre abril e junho, e gera frustração pela expectativa de impulso das atividades esperado com o alívio nas medidas de restrição à mobilidade em meio ao avanço da imunização da população.

O economista Cláudio Considera, coordenador do Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que o resultado do desempenho das atividades entre julho e setembro reforça o cenário de estagnação econômica e aumenta a percepção de deterioração das atividades para 2022. “Está muito difícil ver fatores para o crescimento no próximo ano”, diz. A constante alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o medidor oficial da inflação brasileira, come parte do rendimento das famílias, o que acaba impactando em menos consumo e contratação de serviços. Ao mesmo tempo, o Banco Central (BC) eleva a taxa de juros, refletindo diretamente na diminuição da tomada de crédito e nos investimentos. Os dados do IBGE mostraram que o consumo das famílias cresceu 0,9% no terceiro trimestre, enquanto os investimentos medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) retraíram 0,1%. “A alta da inflação prejudica no consumo das famílias,  que é um elemento de impulso para o PIB, já que o lado dos investimentos está muito baixo”, afirma o economista.

gráfico do pib

O desempenho da economia no terceiro trimestre coloca o país em recessão técnica, que ocorre quando o país registra duas retrações consecutivas. Outros indicadores de atividades, como o ritmo da indústria, comércio e prestação de serviços nos últimos meses, já indicavam que o desenvolvimento econômico brasileiro estava entrando em estado de letargia, o que foi confirmado pelos dados do IBGE. “O PIB mostrou que o país não conseguiu ganhar tração ao longo do terceiro trimestre depois de uma queda no segundo”, diz Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos. O resultado veio abaixo do esperado pela entidade, que projetava alta de 0,2%. “São seis meses que a economia andou de lado, e isso coloca dúvidas sobre como vai ser a reação nos próximos meses”, pondera.

As previsões apontam para uma leve melhora no PIB do quarto trimestre com a normalização das atividades econômicas e um leve recuo no IPCA. O cenário, no entanto, ainda continua pelos juros em aceleração e o agravamento do risco fiscal. Para piorar, a nova variante Ômicron da Covid-19 trouxe um fator extra de instabilidade. “Nós estamos passando por um processo bastante complicado e que tira a renda das famílias. O cenário para 2022 se mostra cada vez mais desafiador diante das coisas que ainda estão acontecendo”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Para Marcela, o desempenho dos serviços nos três últimos meses do ano será fundamental para entender o tamanho das dificuldades. “O avanço favorável da pandemia no Brasil, a alta taxa de vacinação e a falta de sustos com novas variantes devem fortalecer os setores do serviço e do comércio”, diz.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.