Reajuste da Selic acima do esperado deflagra novo ciclo de alta dos juros e indica alerta com inflação

Mudança dá fim à política de estímulos monetários ao mesmo tempo que IPCA bate no teto da meta perseguida pelo Banco Central

  • Por Gabriel Bosa
  • 17/03/2021 20h27 - Atualizado em 18/03/2021 01h06
  • BlueSky
Marcello Casal Jr./Agência Brasil Imagem aérea da sede do Banco Central Colegiado do Banco Central volta a se reunir em outubro com a indicação de acrescentar mais 1 ponto percentual na Selic

O reajuste de 0,75 ponto percentual da Selic pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) nesta quarta-feira, 17, deflagrou novo ciclo de alta para a normalização da taxa de juros brasileira após meses de estímulos monetários, ao mesmo tempo que acende o alerta na autoridade monetária nacional de que a inflação está avançando de uma forma mais forte do que o projetado no fim do ano passado. Em nota, o colegiado justificou o descongelamento de 2% — o menor patamar da história — para 2,75% pelos indícios de recuperação econômica com o recuo de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB), menos da metade do projetado durante o pior momento da pandemia do novo coronavírus. Para analistas, o aumento acima do esperado evidencia a postura de maior agressividade que deve ser adotada pelo Banco Central nos próximos meses. “O Copom acredita que a inflação está sofrendo choques temporários e que deve voltar a se acomodar mais à frente, mas ele também acredita que o ritmo da inflação está superando as condições previstas nas metas, e com isso é melhor começar uma redução dos estímulo monetário”, afirma Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).

A mudança na Selic no segundo encontro do colegiado em 2021 ocorre em meio à intensificação de pressões inflacionárias vistas desde o fim do ano passado, como o dólar alto e a valorização de commodities no mercado internacional. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a 5,2% nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro e encostou no teto da meta de 5,25% perseguida pelo Banco Central, com centro de 3,75% e mínimo de 2,75%. O aumento do IPCA a partir do último trimestre de 2020 era visto como choque temporário e localizado, porém, a constância da escalada levou analistas a preverem o índice a 4,6% ao fim de 2021. Para Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, o tom do recado do Banco Central mostra que o ciclo de elevação deveria ter sido iniciado antes. “O Banco Central admite nas entrelinhas que errou a mão nas suas leituras em relação a inflação, e que efetivamente a puxada de preços por conta do câmbio e commodites é algo preocupante no médio e longo prazo, e que agora está mais atento e deve tentar corrigir essa assimetria”, afirma. 

O mercado espera que a Selic encerre o ano a 4,5% neste ano, segundo dados do Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 15. A decisão do Copom vai nesse sentido, já que ele não falou em “fechar a porta”, expressão usada por economistas para indicar o congelamento da taxa para as próximas reuniões. Pelo contrário, o colegiado indicou que no encontro marcado para os dias 4 e 5 de maio deve ser feito novo aumento na casa de 0,75 ponto percentual. Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, acompanha a mudança do viés tímido adotado pela autoridade monetária até então como algo positivo. “O perfil do Banco Central está mais arrojado, ele fala de todo o orçamento para o ciclo e já deixa contratado nova alta de 0,75 ponto percentual para a próxima reunião”, afirma.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.