Setor de serviços avança 1,1% e evita queda mais brusca do PIB no terceiro trimestre

Atividade responsável por 70% da economia foi impulsionada pela flexibilização das medidas de restrição; inflação alta e variante Ômicron da Covid-19 trazem riscos para os próximos meses

  • Por Jovem Pan
  • 02/12/2021 12h42 - Atualizado em 02/12/2021 12h43
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SAULO ANGELO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Setor de serviços, que inclui bares, restaurantes e hotéis, foi o mais prejudicado pela reedição das medidas de isolamento social no fim de fevereiro Setor de serviços, que inclui bares, restaurantes e hotéis, é maior responsável pelo mercado de trabalho brasileiro

O setor de serviços, que corresponde a 70% da formação do Produto Interno Bruto (PIB), registrou alta de 1,1% no terceiro trimestre em comparação com os três meses imediatamente anteriores e segurou a queda mais brusca de 0,1%. O segmento foi o único das três variantes calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com resultado positivo. A produção industrial, que soma 20% da soma do PIB, ficou estagnada em 0% pela manutenção de entraves que atingem a atividade desde o ano passado, principalmente a falta de insumos e os gargalos nas cadeias produtivas. Influenciada pelo encerramento da safra de soja, que também acabou impactando as exportações, a agropecuária tombou 8% no período. O avanço da prestação de serviços ocorreu em meio à flexibilização das medidas de isolamento social com o avanço da imunização brasileira contra o novo coronavírus. O desempenho positivo foi puxado pela alta de 4,4% do segmento de outras atividades, que engloba justamente os serviços prestados às famílias, como bares e restaurantes. “Com o avanço da vacinação contra Covid-19 e o consequente aumento da mobilidade e reabertura da economia, as famílias passaram a consumir menos bens e mais serviços”, afirma Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Das cinco categorias do serviço, quatro tiveram desempenho positivo. Além de outras atividades, também cresceram informação e comunicação (2,4%), transporte, armazenagem e correio (1,2%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,8%). As atividades imobiliárias (0,0%) ficaram estáveis e apenas as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (-0,5%) e comércio (-0,4%) registraram variações negativas. “A queda nos serviços financeiros se deve em parte a um aumento nos sinistros de planos de saúde. Já o comércio, que foi um dos setores mais afetados pela pandemia, teve uma forte alta no segundo trimestre, com a reabertura e, portanto, a base de comparação estava alta e as famílias também migraram parte do seu consumo para os serviços”, explica Palis.

Apesar do resultado positivo, a alta de 1,1% dos serviços no terceiro trimestre foi vista como frustrante em meio à expectativa de aumento maior em face à forte demanda reprimida pelas restrições sanitárias. “O resultado mostra haver um caminho que ainda pode ser recuperado pelo setor. Dado a dinâmica da pandemia, a alta poderia ter sido mais intensa”, afirma. Dados da pesquisa mensal do IBGE sobre a prestação de serviços mostram a constante desaceleração do setor desde maio, culminando com a retração de 0,6% em setembro. A perda de fôlego ocorre simultaneamente ao crescimento contínuo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação doméstica, impactando na corrosão do poder de compra dos brasileiros. Além do dinheiro rendendo menos, Marcela cita as inseguranças sobre o futuro como razões para um desenvolvimento mais apático da prestação de serviços. “Não se sabe como será o ano que vem, e isso também atrapalha. Esses fatores mostram que não é apenas a pandemia que estava impactando no setor”.

O quadro desafiador deve ser ainda mais pressionado pela variante Ômicron da Covid-19. Pouco mais de uma semana após as primeiras notícias sobre a nova cepa, ainda são muitas as incertezas sobre como essa mutação vai impactar na retomada das economias. Mas alguns exemplos, como a restrição de aviões com origem na região Sul da África e o cancelamento das festas de Réveillon por dezenas de cidades brasileiras, já dão o tom do que pode estar por vir. “Vínhamos caminhando para o fim do lockdown, mas essa nova variante já causou uma série de cancelamos de festividades, elementos importantes para os serviços. Apesar da demanda gerada pelo período de férias, essa novidade pode frustrar, e sem os serviços, o PIB não vai muito longe”, diz o economista Cláudio Considera, coordenador do Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV).

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