Em busca da paz, sírios vêm ao Brasil para recomeçar suas vidas longe da guerra

  • Por Anderson Costa/Jovem Pan
  • 22/09/2015 07h54
Anderson Costa/Jovem Pan Sírios no Brasil

Há quatro anos, as notícias que vêm da Síria não mudam. A guerra civil que atinge o país desde 2011 tem provocado mudanças drásticas na vida de milhões de pessoas. Para recomeçar, muitos sírios têm procurado países vizinhos, a Europa e até terras mais longínquas, como o Brasil, a 10 mil quilômetros de distância.

O ex-tapeceiro Rembrand Germani, de 30 anos, conta que deixou a Síria há um ano e seis meses porque não queria lutar. “Tem guerra lá. Tem guerra e não posso ficar lá. Se eu ficar lá eu vou matar, por isso que estou no Brasil. Eu não quero guerra, eu odeio sangue, não gosto”.

A história de Rembrand é somente uma no meio de tantos sonhos interrompidos. A estudante de arquitetura, Rhania Ratip, explica que precisou parar os estudos por causa dos conflitos armados. “Eu não posso continuar porque tem guerra lá e muitos problemas na rua e na minha universidade”.

O encarregado de negócios brasileiros na Síria, Achilles Zaluar, precisou mudar o gabinete para Beirute, no Líbano por questões de segurança. Ele explica porque muitos sírios têm procurado o Brasil: “o Brasil está oferecendo agora o visto para poder sair da Síria. Isso é uma coisa muito valorizada por eles. O pessoa usa barcos para chegar na Europa porque não tem visto para país nenhum”.

Das 13 províncias existentes na Síria, 12 estão sendo fortemente atingidas pelo conflito armado, segundo a embaixada brasileira. O sheik libanês Ahmed Alkhatib tem uma associação que recebe refugiados em Guarulhos e diz que os sírios que vêm para o Brasil possuem uma situação financeira melhor.

“Quando você está na sua casa e vê em outro bairro ou no seu bairro, você tem medo de que chegue na sua casa e foge. Vai para outro país e se não encontrar emprego, você vai para um terceiro país. Você vai procurando porque quer solução para a sua vida. A maioria dos que vieram para o Brasil eram bem de vida”, explica.

O sheik Ahmed lembra que uma das famílias acolhidas por ele era dona de uma construtora e deixou para trás um padrão de vida bastante elevado.

Para boa parte dos sírios, a opção pela Europa se deve a proximidade e também por causa do valor baixo das passagens. Após a publicação da foto do corpo do menino Aylan Kurdi, de três anos, encontrado em uma praia turca, a Comunidade Europeia se deu conta da crise.

Porém, a aparente mudança de postura dos líderes europeus não alterou o sentimento da população local, como conta Rembrand Germani. “Antes de eu vir para cá eu sei todas as coisas do Brasil. A Europa não gosta de árabes, islãs, aqui no Brasil é tudo normal. Se você saiu de mesquitas, todos vão olhar para você por curiosidade, mas na Europa não tem respeito, eles não gostam”.

O ex-tapeceiro acredita que a Síria demorará pelo menos 20 anos para ser reconstruída quando a guerra chegar ao fim.

Desde 2013, mais de cinco mil refugiados sírios chegaram ao Brasil em busca de um recomeço. Para alguns, a viagem até o Brasil será por pouco tempo, já para outros, ela será definitiva.

Segundo a ONU, o confronto já deixou mais de 210 mil mortos, milhares de feridos e pelo menos quatro milhões e meio de refugiados pelo mundo.

*Imagens: Fabio Arantes/Secom. 

**Prefeitura de São Paulo realiza mutirão para o atendimento de refugiados sírios que hoje vivem na cidade de São Paulo.

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