Fukushima confia em “muro de gelo” como solução final para vazamentos
Antonio Hermosín
Okuma (Japão), 9 jul (EFE).- Os responsáveis da usina nuclear japonesa de Fukushima se mostraram nesta quarta-feira confiantes de que a construção de um “muro de gelo” subterrâneo permitirá controlar os vazamentos de água radioativa, um custoso e inovador projeto que despertou dúvidas entre os especialistas.
“É uma medida chave para solucionar o problema dos vazamentos, e estamos convencidos de que funcionará”, afirmou nesta quarta-feira o diretor da usina, Akira Ono, ao apresentar o projeto a um grupo de jornalistas convidados a visitar os trabalhos na acidentada central.
A proprietária da usina, Tokyo Electric Power Company (TEPCO), apostou por um sistema do qual apenas não existem precedentes de uma escala similar, cujo custo chega a 31,9 bilhões de ienes (230 milhões de euros) mais 1 bilhão de ienes (7 milhões de euros) de manutenção anual, financiados pelo Estado japonês.
O projeto consiste em instalar encanamentos a uma profundidade de até 30 metros sob a terra pelas quais será injetado um refrigerador a uma temperatura de 40 graus sob zero, o que resultará em um congelamento dos aqüíferos subterrâneos em contato com as canalizações.
Deste modo, será criada uma rede subterrânea de barras de gelo com uma longitude de 1,5 quilômetros em torno dos reatores 1 a 4 da central, que deveria evitar que a água dos aqüíferos penetre até o interior dos edifícios.
Nas obras, cuja finalização é prevista para 2020, trabalham mil empregados em duras condições, devido à necessidade de usar traje antirradiação, óculos protetores e máscara enquanto operam maquinaria pesada com temperaturas que superam os 30 graus e uma elevada umidade ambiental.
“Estamos provando métodos muito inovadores que constituem um desafio para os engenheiros”, destacou Ono, que disse que o “muro” de água gelada “não resolverá por si só” o problema dos vazamentos e deverá ser acompanhado de “outras medidas”.
A TEPCO também tem em andamento um sistema de bombeamento de água dos aqüíferos subterrâneos e uma linha de processado de água contaminada capaz de eliminar a maioria dos materiais radioativos, dois métodos que foram interrompidos por vários problemas técnicos.
Todas estas medidas estão destinadas a evitar que o líquido altamente radioativo acumulado nos porões das instalações nucleares se misture com a água dos leitos subterrâneos e posteriormente se filtre para o exterior e termine no mar.
Acredita-se que a cada dia umas 300 toneladas de água contaminada vão parar no mar através dos desaguamentos do píer da central, o que constitui “o desafio mais urgente que é preciso resolver para que a usina seja inofensiva”, segundo o diretor.
A eficácia do “muro de gelo”, no entanto, foi questionada pela Agência Japonesa de Regulação de Nuclear (NRA) -um organismo independente – que deu recentemente um toque de atenção a TEPCO pelos erros detectados ao empregar um método similar de congelamento subterrâneo para carimbar canalizações de outra zona da usina.
Estes problemas ocorreram por causa das correntes subterrâneas eram mais poderosos, o que “não será um inconveniente” na hora de construir o “muro de gelo”, afirmou o diretor da central.
Uma vez que se consiga controlar os vazamentos, o seguinte “grande desafio” será o desmantelamento da usina, uma tarefa que se prolongará durante umas quatro décadas, acrescentou Ono.
O terremoto e tsunami de março de 2011 provocaram na central de Fukushima Daiichi o pior acidente nuclear desde o de Chernobyl (Ucrânia) em 1986.
As emissões e vazamentos radioativos resultantes ainda mantêm evacuadas cerca de 50 mil pessoas que viviam junto à usina e afetaram gravemente à agricultura, à pecuária e à pesca locais.
Apesar dos danos que sofreu, a usina “está preparada” para resistir a um terremoto de grande intensidade, assegurou Ono, que acrescentou que “o que mais o preocupa” é que um eventual terremoto terminasse em um tsunami similar ao de mais de 3 anos.
“Nesse caso, os sistemas de refrigeração dos reatores e outras funções da usina poderiam ser afetados”, reconheceu o diretor. EFE
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