Hepatite pode ser eliminada com mobilização dos recursos necessários, diz OMS
Marta Hurtado.
Genebra, 24 jul (EFE).- A eliminação da hepatite viral, que a cada ano causa 1,4 milhão de mortes, pode ser conseguida com a mobilização dos recursos técnicos, financeiros e de capacitação, disse nesta quinta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“É possível eliminar a hepatite viral. Estamos pedindo aos líderes do mundo para perceberem que esse é o momento de aplicar as medidas necessárias para acabar com a hepatite, porque agora podemos realmente eliminá-la”, afirmou em coletiva de imprensa o médico Samuel So, diretor do Centro Asiático do Fígado e especialista da OMS.
“Estamos em um momento de muita empolgação porque finalmente temos os tratamentos necessários. Remédios que provaram que 90% dos doentes que tomaram foram curados. Devemos atuar agora para mudar a dinâmica”, afirmou por sua vez Stefan Wiktor, diretor do Programa Mundial de Hepatite da OMS.
A necessidade e a urgência de lutar contra a doença estão em que não só 1,4 milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da hepatite, mas que 500 milhões de pessoas que convivem com algum dos vírus que a provocam e desconhecem que possuem, podem continuar transmitindo. Em 22 de maio, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou uma resolução que pede o desenvolvimento e implantação de políticas públicas multissetoriais destinadas a reduzir a incidência e o índice de mortalidade da hepatite.
A resolução pede aos países que desenvolvam programas de prevenção da hepatite e reforcem os programas de imunização para reduzir a incidência dos tipos que existem vacinas.
“Isso foi um grande passo porque se tomou total consciência do alcance da doença e das possibilidades de eliminá-la”, afirmou Wiktor.
O especialista explicou que apesar de terem passado apenas dois meses desde a aprovação da resolução, dados já foram passados para países como Brasil, Egito, Indonésia e Ucrânia, que estão estendendo ou criando programas transversais para lutar contra a doença.
A hepatite é a inflamação do fígado, causada na maioria dos casos por uma infecção virótica gerada por cinco vírus principais: A, B, C, D, E. Os mais perigosos são os tipos B e C porque são os que podem desencadear cirrose e câncer de fígado.
Calcula-se que, aproximadamente, 240 milhões de pessoas no mundo convivam com o vírus B e corram risco de desenvolver cirrose ou câncer de fígado, já que dois terços desconhecem que convivem com a doença porque nunca foram diagnosticados.
No entanto, agora que existem fármacos muito eficazes, ficou provado que a medicação evita em 80% dos casos de câncer de fígado, o segundo câncer que mais mata, após o de pulmão, assinalou So.
“O problema é que não basta ter remédios, mas também precisam ter os serviços clínicos necessários, as equipes capacitadas, os laboratórios com o equipamento. A luta é global”, advertiu Wiktor.
A hepatite A e E é contraída após a ingestão de água ou comida contaminadas, enquanto os vírus B, C e D aparecem por contato com fluidos corporais após ter partilhado uma seringa, feito transfusão de sangue ou nas relações sexuais. No caso da hepatite B a mãe também pode transmitir o vírus para o filho, por isso é recomendada a vacinação do recém-nascido.
Para os vírus A e B já há vacinas, e desde sua implantação a recomendação é de imunizar todas as crianças contra o vírus B. Atualmente, 74% das crianças no mundo já a obtiveram.
Dos 1,4 milhão de mortes, 55% se devem ao vírus B, 35% ao vírus C, e 10% restante entre os tipos A e E, especificou So.
O problema principal assinalado pelos especialistas para eliminar a hepatite é “a falta de grandes doadores que queiram lutar especificamente contra a doença”, lamentou Wiktor, que explicou que os países é que terão que tomar as rédeas, o que desacelerará o processo.
“A hepatite mata anualmente quase o mesmo número de pessoas que a Aids e, no entanto, não se tem os fundos necessários para tentar sua erradicação. É muito frustrante”, confessou So, que sugeriu que sejam usadas as mesmas estruturas já estabelecidas para lutar contra a Aids, como o Fundo Global de Luta Contra AIDS, Tuberculose e Malária, para combater a hepatite. EFE
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