Holder, primeiro procurador-geral negro, se despede defendendo direitos civis
Washington, 24 abr (EFE).- Eric Holder, o primeiro procurador-geral negro dos Estados Unidos, se despediu nesta sexta-feira do Departamento de Justiça com um emotivo discurso em que defendeu seus seis anos de trabalho a favor dos afro-americanos e dos homossexuais, cuja igualdade considerou “o tema de direitos de nosso tempo”.
“Acho que agora já podemos dizer oficialmente que Holder é livre”, brincou o promotor em sua cerimônia de despedida no Departamento de Justiça, ao mesmo tempo em que tirava uma pulseira com a frase “Free Eric Holder” e a jogava para o público, que explodiu em aplausos.
A pulseira havia se tornado uma piada interna entre Holder e seus colegas do Departamento, enquanto esperavam a confirmação do Congresso de Loretta Lynch como procuradora-geral, que após cinco meses de geladeira, tomará posse na próxima segunda-feira e se tornará a primeira mulher negra a comandar a justiça americana.
“Não quero ser livre deste grande instituição. Não quero ser livre das relações que forjei com tantos de vocês. Não quero nunca ser livre da ideia que sou um membro do Departamento de Justiça dos Estados Unidos”, ressaltou Holder.
Defensor dos direitos civis desde a juventude, Holder, de 64 anos, dedicou grande parte de seu discurso a defender seu legado em direitos para a comunidade homossexual e transexual, que sob seu comando conseguiu os mesmos benefícios federais que os casais heterossexuais.
Holder, casado e com três filhos, expressou seu desejo de que a Suprema Corte legalize o casamento entre as pessoas do mesmo sexo nos 50 estados do país, um tema que será estudado pelo tribunal na próxima terça-feira para emitir sua opinião daqui a dois meses.
Filho de imigrantes, Holder também dedicou suas últimas palavras como procurador-geral ao movimento pelos direitos civis e lembrou sua viagem a Selma, no Alabama, para celebrar o 50º aniversário da marcha pelo direito dos negros ao voto, que foi duramente reprimida e se transformou um dos maiores símbolos da luta pelos direitos civis.
Holder, que não hesitou em falar em termos combativos sobre as tensões raciais no país, se tornouo rosto mais visível do governo na crise racial que emergiu do assassinato de um jovem negro desarmado por um policial branco em Ferguson, no Missouri.
“Eu sou o procurador-geral dos Estados Unidos, mas também sou um homem negro”, disse então Holder, que após sua viagem a Ferguson, determinou a abertura de uma investigação para esclarecer se a polícia local atua guiada por preconceitos raciais em suas detenções e revistas de cidadãos negros.
O relatório descobriu a existência pela polícia e pela justiça local de um “padrão de uso excessivo de força” contra afro-americanos, o que provocou uma série de demissões dentro de Ferguson e a renovação da estrutura de comando da cidade.
Como procurador-geral, Holder instaurou um programa piloto de reconciliação em seis cidades do país para acabar com a “desconfiança” e as “tensões subjacentes” entre as forças da ordem e as minorias raciais, algo em que deseja continuar trabalhando agora, na esfera privada.
O procurador-geral
, nomeado em 1993 pelo presidente Bill Clinton como advogado do Estado para o Distrito de Columbia, destacou entre suas conquistas a “despolitização” do Departamento de Justiça e as multimilionárias multas que impôs a gigantes de Wall Street por seu papel na comercialização das hipotecas lixo que assentaram as bases para a crise econômica de 2008.
No entanto, Holder, estreito colaborador do presidente americano, Barack Obama, também deixa em seu legado o escândalo de “Rápido e Furioso” (2009), uma operação que pretendia seguir uma pista de contrabando de armamento ao México, mas que falhou e permitiu narcotraficantes mexicanos obterem centenas de armas.
A polêmica também perseguiu Holder quando, comprometido com acabar com a política de detenções indefinidas em Guantánamo, apoiou o julgamento em Nova York de Khalid Sheikh Mohamed, suposto cérebro dos atentados do 11 de setembro de 2001, que nunca chegou a sair da base militar.
“Acho que dentro de 50 anos as pessoas olharão para trás e dirão que esta é uma nova idade de ouro”, afirmou Holder, que comparou as novas conquistas de seu secretariado com os conquistados durante a gestão de Robert Kennedy (1961-1964) quando o Departamento de Justiça se transformou em aliado da defesa dos direitos civis. EFE
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