Homens procuram menos médico por trabalharem mais que mulheres, diz ministro

  • Por Estadão Conteúdo
  • 11/08/2016 13h32
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Brasília - O ministro da Saúde, Ricardo Barros, concede sua primeira entrevista coletiva à imprensa sobre assuntos relacionados à pasta (Wilson Dias/Agência Brasil) Wilson Dias/Agência Brasil Ministro da Saúde

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que os homens procuram menos o atendimento de saúde porque “trabalham mais do que as mulheres e são os provedores” das casas brasileiras. Além de acreditar que os homens “possuem menos tempo” do que as mulheres, o ministro considerou que os homens fazem menos acompanhamento médico por uma questão de hábito e de cultura. Nesta quinta-feira, 11, o ministério lançou um guia do “Pré-Natal do Parceiro”, a fim de incentivar os homens a fazerem exames de prevenção ao acompanhar as mulheres aos postos de atendimento durante a gravidez. 

Apesar da declaração do ministro, dados do IBGE indicam que as mulheres trabalham mais do que os homens. Em 2004, as mulheres trabalhavam quatro horas a mais que os homens por semana, quando se soma a ocupação remunerada e o que é feito dentro de casa. Em uma década, a diferença aumentou mais de uma hora. Em 2014, a dupla jornada feminina passou a ter cinco horas a mais, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Nestes dez anos, os homens viram sua jornada fora de casa cair de 44 horas semanais para 41 horas e 36 minutos. A jornada dentro de casa permaneceu em 10 horas semanais.

O programa do Ministério da Saúde do pré-natal para homens busca reduzir a diferença de sete anos entre a expectativa de vida entre homens e mulheres e aproximar os pais durante a gestação. Um projeto piloto da iniciativa já existe há um ano, com treinamentos para os chamados “multiplicadores” (que podem ser gestores, psicólogos, assistentes sociais, médicos ou enfermeiros). Eles recebem um treinamento para propagar o projeto em seus Estados. Até dezembro deste ano, a expectativa do ministério é de que cerca de 800 multiplicadores tenham recebido os ensinamentos. Estados como Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná já deram início ao programa. 

“Nesse momento em que eles vão aos postos de saúde acompanhar as mulheres no pré-natal nós queremos capturar os homens”, disse Barros. Segundo o ministro, os servidores irão estimular a presença dos homens, solicitar exames e isso irá criar um vínculo. “Normalmente quando o atendimento familiar vai à casa das famílias os homens estão fora trabalhando”, comentou. Barros disse ainda que o programa não terá nenhum custo adicional ao sistema. “É apenas um comportamento das equipes, a estrutura do atendimento está pronta e está paga”, declarou. “Queremos atingir essa parte da população que não tem o hábito de frequentar postos de atenção (…) Esperamos com isso que os nossos trabalhadores tenham uma expectativa de vida melhor.”

Para Francisco Norberto, Coordenador Nacional da Saúde do Homem, a ideia é “ampliar a imagem do homem” entre os profissionais de saúde, fazendo-os pensar neles “dentro do seu território” e em como captá-los para a unidade básica de saúde. Dessa forma, o atendimento poderia acontecer na casa do homem, ou até mesmo em um bar ou em um jogo de futebol, de acordo com Norberto. “Muitos alegam que não precisam e que a questão do trabalho é um dificultador”, avaliou o coordenador. Segundo Norberto, uma opção para acolher os homens, que já foi implantada em algumas regiões, seria ampliar o horário de atendimento. Cada adequação deverá ser feita de acordo com as necessidades da região.

Outro ponto que poderá ser melhorado com a cartilha do Ministério da Saúde, acredita o coordenador, é incentivar a participação e a responsabilização dos homens durante a gravidez de suas parceiras. “É importante que os pontos de atendimento vejam o homem não como visita, mas como parte da família, alguém que tem que ter acesso para acompanhar e aprender a cuidar da criança (…) A ideia é aprimorar esse vínculo para que haja também uma redução da violência doméstica, para que esse homem entenda que também é responsável pelo cuidado filho”, explicou o coordenador. “Esse é um processo contínuo de mudança de cultura”.

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