Mesmo depois de Cecil, leão favorito do Zimbábue continua a ser uma cerveja

  • Por Agencia EFE
  • 10/08/2015 07h18

Oliver Matthew.

Harare, 10 ago (EFE).- O novo anúncio da cerveja Lion Lager, do Zimbabue, apareceu recentemente na imprensa estatal e surpreendeu a população: “Nosso orgulho continua vivo – Um tributo ao leão Cecil”, diz o slogan em referência ao leão abatido pelo dentista americano Walter Palmer.

A morte deste animal causou enorme comoção no mundo todo, mas passou mais despercebida no país sul-africano, e alguns zimbabuanos lembram que, para eles, a cerveja local Lion é muito mais conhecida do que o próprio Cecil.

“A imprensa ocidental deveria checar a informação que publica, #CecilTheLion não é necessariamente o leão favorito do Zimbábue. Também tem a Lion Lager”, dizia em tom jocoso um zimbabuano no Twitter.

Apesar do sentimento de alienação provocado pela morte de Cecil, várias empresas locais não deixaram passar a oportunidade de ganhar um pouco de atenção internacional graças ao triste final do leão.

Outro anúncio da cervejaria, este em vídeo, fez sucesso nas redes sociais. O comercial mostra um cliente bebendo um gole de uma garrafa de Lion e, após deixá-la na mesa, rugir com força enquanto uma voz diz: “Todos estamos tristes que Cecil tenha partido, mas seu rugido segue vivo”.

Os anúncios tiveram grande aceitação entre os zimbabuanos que, como o magnata Mike Madoda, os interpretaram como um tributo ao leão, apesar de ser mais uma boa cartada da cervejaria.

Ironicamente, não foram tão hábeis os responsáveis da agência de publicidade Jericho Advertising, que compartilha nome com outro leão, irmão de Cecil, que acreditava-se também ter sido morto por um caçador, mas no final foi encontrado são e salvo.

O leão Jericho ocupa agora o lugar de Cecil na manada e já foi visto copulando com uma das leoas e buscando os filhotes de seu irmão para matá-los para que seus futuros filhotes sobrevivam.

No polêmico anúncio, que foi divulgado no Facebook e imediatamente se espalhou pelas redes sociais, o leão Jericho aparece montando uma leoa, e um texto ao pé da foto diz: “Jericho está são e salvo. É bom estar no topo. #RIPCecil”.

A controvérsia foi tão grande que o próprio fundador da empresa, Denford Magora, ordenou a retirada da imagem do ar e publicou uma mensagem pedindo desculpas pela incoveniência da campanha.

Magora afirmou que, desta vez, a agência tinha ido “longe demais com o anúncio” e que tinha pedido aos publicitários para que buscassem “outra forma de comemorar que Jericho tenha escapado das garras dos caçadores”.

Os casos de Cecil e Jericho despertaram tanto interesse fora do Zimbábue que o WildCRU, grupo de pesquisa da Universidade de Harvard que acompanhava Cecil, recebeu US$ 780 mil em doações para continuar seu trabalho.

Ciente da gravidade da repercussão do caso, a Autoridade dos Parques e Vida Selvagem do Zimbábue (ZPWMA) estabeleceu um fundo para espécies em perigo que organizará grupos para monitorar mais de perto a atividade da indústria da caça, que durante anos viveu no mais absoluto sigilo.

Apesar da morte de Cecil e das possibilidades comerciais que alguns viram na tragédia, a sensação generalizada no Zimbábue é que a história foi exagerada e ofuscou outros problemas muito mais graves que o país africano tem.

Em um editorial, o jornal estatal “Chronicle” lamentou que o “circo” gerado por Cecil “tenha ido longe demais” e pediu à comunidade internacional para que deixe o país “em paz”. EFE

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