Milhares de pessoas fogem de Katmandu enquanto o resto do Nepal busca ajuda

  • Por Agencia EFE
  • 29/04/2015 15h56

José Luis Paniagua.

Katmandu, 29 abr (EFE).- Katmandu se despede de seus mortos no terremoto de sábado enquanto centenas de milhares de pessoas deixam a devastada capital, aonde chegam, por outro lado, nepaleses de todo o país e aqueles que vivem no exterior querendo saber o que aconteceu com seus familiares.

No Aarya Ghat, um lugar santo sob o abrigo do gretado templo ao deus hindu Shiva da capital, as piras funerárias não se apagam como também não cessa o pranto pela perda de parentes e amigos.

“É preciso resignar-se, não resta outra solução”, disse à Agência Efe Sagar Dahal, um jovem professor, após se despedir de sua tia e três de seus primos.

O governo mantém o número de pouco mais de 5.000 mortos e mais de 10.000 feridos como balanço da catástrofe, embora Katmandu comece a preparar-se para saber o que sucedeu no resto do Nepal à medida que se recupera as comunicações por estrada.

Bimal Shrestha, procedente de um povoado do distrito de Sindhupalchwok, afirmou à Efe que o terremoto e as réplicas posteriores derrubaram 800 casas e mataram pelo menos 100 pessoas apenas em sua aldeia.

Dali também é Ranjit, um motorista de 35 anos que trabalha em uma embaixada em Nova Délhi e voltou ao Nepal.

“Minha filha está desaparecida desde sábado. Foi à igreja e só sei que se foi, não sei aonde, isso é o que vou ver, mas se foi”, contou Ranjit à Efe.

O governo do Nepal reconheceu que ainda não pode quantificar a magnitude da catástrofe nem o número de mortos pela falta de acesso a povoados remotos, embora comecem a sair dados como o de 450.000 deslocados e quase 95.000 infraestruturas danificadas.

“Não somos capazes de avaliar a situação já que povoados inteiros foram destruídos em áreas remotas. Não sabemos quanta gente havia nos povoados quando aconteceu o terremoto”, declarou à Efe o porta-voz do Ministério do Interior nepalês, Laxmi Prasad Dhakal.

Os hospitais de Katmandu se encontram no limite de sua capacidade enquanto continuam chegando feridos de outros distritos do país.

“O hospital já está colapsado pelo número de pacientes, enquanto gente que chega de além do vale (de Katmandu) continua vindo”, comentou ao jornal nepalês “Kantipur” Swoyam Prash Pandit, diretor do hospital Bir, o principal centro médico da capital.

Enquanto das aldeias os afetados chegam como podem à principal cidade do país, cerca de 340.000 pessoas abandonaram o vale de Katmandu por temor a novas réplicas e a surtos de doenças, segundo a polícia da capital.

O Centro Nacional de Operação de Emergência do Nepal eleva este número para 420.000, enquanto é possível ver sair da cidade inumeráveis ônibus, caminhões e outros veículos com gente inclusive pendurada nas portas e janelas.

A ONU calcula que serão necessários US$ 415 milhões nos próximos três meses para a ajuda mais urgente aos afetados, que inclui alojamento temporário, água, alimentos e atendimento médico.

O governo nepalês admitiu que necessita de cerca de meio milhão de barracas de campanha e apenas 4.700 já foram distribuídas.

Enquanto uns fogem de Katmandu e outros tentam chegar à capital, os aviões que chegam do exterior trazem a angústia e o temor de centenas de nepaleses que retornam ao país para saber o que lhes espera em suas casas.

O terremoto não só custou milhares de vidas, mas também parte da herança cultural do Nepal, devido aos danos em quase todos os lugares declarados Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Os templos e monumentos históricos derrubados ou em ruínas na emblemática praça Bashantapur Durbar da capital refletem o desastre.

“Esta praça era um lugar incrível, um dos patrimônio da Unesco, mas com a devastação acaba de se transformar em um deserto”, lamentou Rajan Maharjan, presidente da Federação Mundial de Jovens Hindus. EFE

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