Milhares de portugueses homenageiam em Lisboa ícones do golpe militar de 1974

  • Por Agencia EFE
  • 25/04/2014 13h38

Lisboa, 25 abr (EFE).- Milhares de cidadãos fizeram um tributo nesta sexta-feira em Lisboa aos militares que protagonizaram o golpe militar de 25 de abril de 1974, em um ato de forte tom crítico com o governo atual e a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).

A iniciativa teve uma grande carga simbólica, já que aconteceu no Largo do Carmo, frente ao quartel onde há exatos 40 anos os soldados sublevados alcançaram a rendição do então primeiro-ministro – herdeiro do regime – Marcello Caetano, para encerrar assim a ditadura e facilitar a chegada da democracia.

O presidente da Associação 25 de Abril – entidade que reúne os militares que estiveram envolvidos no levantamento – Basco Lourenço, pronunciou um aceso discurso no qual censurou duramente a atitude do Executivo.

“Ou a política muda urgentemente e se inverte o caminho da submissão, da austeridade e do empobrecimento do país, ou este governo tem que ser retirado – do poder – sem hesitar”, defendeu.

Enquanto o ato acontecia na rua, no parlamento os porta-vozes de todas as forças parlamentares lusitanas e as maiores autoridades do país – incluindo o chefe do Estado, Aníbal Cavaco Silva – se reuniram na tradicional cerimônia oficial para comemorar a chamada Revolução dos Cravos.

A Associação 25 de Abril foi convidada a comparecer à homenagem, mas novamente declinou de participar este ano devido à recusa da presidente do parlamento, Assunção Esteves, a permitir que Basco Lourenço subisse ao palanque para discursar.

Como demonstração de apoio a suas reivindicações, o histórico dirigente socialista Mário Soares, que foi primeiro-ministro (1976-1978) e chefe do Estado (1986-1996), também não participou da sessão oficial no parlamento e acompanhou os militares do 25 de abril.

Basco Lourenço, um dos articuladores do golpe de Estado, alertou hoje que por causa das severas políticas de austeridade aplicadas durante os três últimos anos, Portugal se transformou “em um barril de pólvora” a ponto de explodir.

“Temos que ser capazes de aproveitar as armas da democracia e dar um cartão vermelho aos responsáveis por como o país está hoje para expulsá-los do campo”, comparou.

A concentração no Largo do Carmo, no coração de Lisboa, homenageou diretamente Fernando Salgueiro Maia, o capitão do exército português que liderou o grupo de militares que cercou o quartel no qual se protegia Marcello Caetano em 25 de abril de 1974.

Salgueiro Maia é um dos heróis da Revolução, e sua é uma frase pronunciada perante seus homens ao início do levantamento que já passou à história: “Senhores meus, como todos sabem, há várias formas de Estado: o Estado social, o Estado corporativo, e o estado ao que chegamos. Agora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado ao que chegamos”.

Além disso, Salgueiro Maia foi também protagonista do momento de maior tensão do golpe, ao ficar, sozinho, segurando um lenço branco de frente a cinco tanques das forças ainda leais ao regime.

O oficial do comando ordenou abrir fogo contra o capitão insurreto, mas seus próprios subordinados se negaram a cumprir a ordem, certificando definitivamente o fim de uma ditadura que já duava quase meio século. EFE

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