Mundo empresarial escocês dividido sobre os efeitos da independência

  • Por Agencia EFE
  • 17/09/2014 01h59
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Judith Mora

Edimburgo (R.Unido), 16 set (EFE).- A dois dias do plebiscito, o mundo empresarial e os pequenos comerciantes da Escócia seguem divididos sobre os efeitos que a independência teria na economia e em seus negócios, algo que pode ser percebido nas ruas de Edimburgo.

Grandes companhias britânicas, como a companhia petrolífera BP, alertam para os perigos da separação, bancos como Lloyds e RBS ameaçaram transferir para Londres suas sedes, e mais de 2.600 pequenas e médias empresas escocesas enaltecem os benefícios de um governo independente.

A Business for Scotland, organismo que reúne esse pequeno e médio comércio, afirmou à Agência Efe que a separação do Reino Unido permitiria ao empresariado escocês ter mais voz ativa.

“Uma Escócia independente terá controle sobre sua renda e poder de decisão em relação aos investimentos, regulação e promoção dos bens e serviços escoceses no mundo”, afirmou o diretor de pesquisa da organização, Michael Gray.

Serkan Ginar, um turco-escocês proprietário de uma cafeteria no centro de Edimburgo, concorda que um país menor (a Escócia tem cinco milhões de habitantes e o Reino Unido 58 milhões) “pode ser governado melhor”.

“Eu penso com mentalidade empresarial: antes tinha seis estabelecimentos e era mais difícil controlá-los, agora tenho um e posso me estabilizar nele e ele vai muito bem”, compara.

Com a bandeira escocesa nas paredes de seu estabelecimento, Ginar, casado e com três filhos, votará “sim” na consulta de quinta-feira porque busca “um futuro melhor” para seus filhos, embora, segundo ele, a curto prazo a independência “exigirá esforços e trará desafios duros”.

Alguns metros mais abaixo, na pitoresca Victoria Street, Andrew Howat, de 49 anos e longa barba, explica as virtudes da independência em sua loja de mapas e livros antigos.

“Eu acredito na autodeterminação, me parece estupendo que os escoceses tenhamos a oportunidade de decidir sobre nosso futuro, não nos deram essa opção em 1707”, quando se forjou a união com o Reino Unido, disse à Efe.

“Nunca votei no Partido Nacionalista Escocês (SNP), mas concordo com Alex Salmond (líder da legenda) de que já é hora dos escoceses terem o governo que escolherem, e não aos conservadores ingleses, como ocorre atualmente”, manifestou.

Howat não acha que a questão da moeda -Londres rejeita uma união monetária da libra com uma eventual Escócia independente- seja um problema: “sempre foram feitos tratos e transações e eles seguirão sendo feitos”.

As ruas da capital escocesa vibram com a histórica consulta, que gera grande debate entre amigos, colegas e famílias, e que, segundo o pequeno empresário John Bowan, “causa verdadeiras divisões”.

Bowan, de 60 anos, tem uma loja de chá e opina que a independência será “fatal” para a economia e para seu negócio.

Militante do Partido Trabalhista britânico e “contrário a todos os nacionalismos”, ele afirma que “o voto independentista é um voto racista, basicamente anti-inglês”.

“Se vence a independência, no dia seguinte sem falta mudo minhas contas bancárias para a Inglaterra”, declarou à Efe. Bowan classifica de “vis traidores” os cerca de 40% de eleitores trabalhistas que, segundo as enquetes, optarão pela secessão.

Christopher Smyth, dono de uma loja de cartões e decoração natalina onde há uma figura da rainha Elizabeth II na vitrine como exigência turística, fez as contas e concluiu que com a independência sairá perdendo.

“O pequeno comércio hoje em dia subsiste graças a várias fontes de renda e eu dependo em 50% das vendas pela internet. Com a independência aumentaria o custo de se enviar produtos por correio ao resto do Reino Unido e meu mercado imediato também se reduziria”, explicou.

Frente à divergência de opiniões e argumentos opostos, há também empresários e comerciantes que já têm claro como se beneficiar aconteça o que acontecer.

É o caso da original loja de curiosidades e objetos de presente “Museum Context”, que vende “passaportes escoceses” por uma libra esterlina, “válidos a partir de 19 de setembro”. EFE

jm/dk

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