Após ordem de cessar-fogo, Ucrânia registra bombardeios e troca acusações com Rússia sobre autoria

Cidades ucranianas foram atacadas pouco tempo depois do início da trégua; Zelensky afirma que decisão de Putin é uma ‘desculpa para conter o avanço’ das tropas de Kiev na região do Donbass

  • Por Jovem Pan
  • 06/01/2023 11h03 - Atualizado em 06/01/2023 11h06
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STRINGER / AFP cessar-fogo russo Reservistas recrutados durante a mobilização parcial participam de uma cerimônia de partida em Sevastopol, na Crimeia

Poucas horas após o início do cessar-fogo de 36 horas ordenado por Vladimir Putin, que começou nesta sexta-feira, 6, e vai até sábado, os bombardeios continuavam acontecendo em ambos os lados do “front” em Bakhmut, epicentro dos combates no leste da Ucrânia, de acordo com autoridades ucranianas e jornalistas da imprensa internacional no país. Disparos de ambos os lados foram ouvidos após o início teórico do cessar-fogo nesta cidade, com ruas em grande parte destruídas e desertas, embora sua intensidade tenha sido menor do que nos dias anteriores. Não foi só essa localidade que relatou ataques. A Ucrânia também informou que houve bombardeios em Kramatorsk. A Rússia não assumiu as responsabilidades dos ataque e garantiu que respeita a trégua unilateral de dois dias decretada pelo presidente Putin na Ucrânia por ocasião do Natal ortodoxo, mas acusou a Ucrânia de continuar os bombardeios. “Apesar do fato de as tropas russas respeitarem o cessar-fogo, o regime de Kiev continuou bombardeando as cidades e posições russas”, assegurou o Ministério da Defesa russo em seu relatório diário.

O anúncio de cessar-fogo foi declarado na quinta-feira, 5, pelo líder russo. “Levando-se em consideração o chamado de Sua Santidade, o patriarca Cirilo, instruí o ministro da Defesa a ordenar um regime de cessar-fogo ao longo de toda linha de contato entre os lados na Ucrânia”, afirmou Putin, conforme comunicado divulgado pelo Kremlin. Contudo, seu anúncio foi recebido com ceticismo pelas autoridades ucranianas. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, considerou que é uma “desculpa para conter o avanço” das tropas de Kiev na região do Donbass e levar “equipamentos, munições e aproximar os homens das nossas posições”, acrescentando que os russos “querem usar o Natal como fachada para deter, pelo menos brevemente, o avanço de nossos rapazes em Donbass e trazer equipamentos, munições e homens mobilizados para mais perto de nossas posições. O que isso trará? Apenas mais um aumento no número de mortos”, denunciou Zelensky, no habitual discurso noturno.

cessar-fogo na Ucrânia

Cessar-fogo está em vigor na Ucrânia por 36 horas por causa do Natal ortodoxo │Sameer Al-DOUMY / AFP

O anúncio de cessa-fogo na Ucrânia divide opiniões. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, considera positivo, mas cobrou uma resposta definitiva para encerrar o conflito, embora ainda não haja condições para isso. “Se há condições para que pessoas não morram no Natal, isso é positivo, mas o que importa fundamentalmente é uma solução do conflito, e a solução só é possível com base na Carta das Nações Unidas e no direito internacional”, afirmou Guterres em ato em Lisboa, segundo a agência “Lusa”. O chefe da ONU lamentou que “ainda não foram criadas as condições para uma solução de paz efetiva imediata”, mas insistiu na “possibilidade de se criar as condições para que uma solução de paz possa prevalecer”. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aliado de Zelensky, considerou a ordem de Putin como “interessante”. “Acho que Putin está tentando encontrar um pouco de oxigênio”, disse Biden, sem dar detalhes. Por outro lado, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price,  afirmou que Washington tinha “pouca fé nas intenções por trás deste anúncio”, pois o Kremlin não deu nenhuma razão para aceitar qualquer coisa que eles oferecem. Price também acrescentou que essa trégua aparenta ser uma estratégia para para descansar, reabilitar, reagrupar e, por fim, voltar a atacar”, disse.

*Com informações da AFP e EFE

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