Banimento de Trump do Twitter abre ‘precedente perigoso’, diz CEO da rede

Apesar de defender que a medida foi a melhor decisão para a empresa, o diretor-executivo Jack Dorsey reconheceu os perigos que a atitude representa para as conversas de interesse público

  • Por Bárbara Ligero
  • 14/01/2021 13h28 - Atualizado em 14/01/2021 14h36
Reprodução/Facebook/ Jack Dorsey dorsey Jack Dorsey já foi chamado pelo Comitê Judiciário do Senado para testemunhar sobre as políticas de moderação do Twitter

O presidente executivo do Twitter, Jack Dorsey, utilizou a sua própria conta na rede social nesta quarta-feira, 13, para discorrer sobre a decisão de banir o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, da plataforma. Ele afirmou que, apesar de acreditar que a medida foi a melhor solução para o problema, ela também abre um precedente perigoso em relação ao poder que uma entidade tem sobre debates que são de interesse público e global. Trump foi suspenso permanentemente da rede social sob a acusação de incitação à violência após a invasão ao Capitólio no último dia 6, evento que causou a morte de cinco pessoas. Antes disso, o Twitter já vinha marcando várias de suas publicações com alegações de fraude eleitoral como sendo suspeitas.

“Eu não comemoro ou sinto orgulho de termos tido que banir @realDonaldTrump [conta do presidente americano] do Twitter ou de como chegamos a isso. Após um claro aviso de que tomaríamos essa atitude, nós tomamos uma decisão com as melhores informações que tínhamos com base nas ameaças à segurança física dentro e fora do Twitter. Isso foi correto? Eu acredito que essa foi a decisão certa para o Twitter. Enfrentamos uma circunstância extraordinária e insustentável, que nos obrigou a focar todas as nossas ações na segurança pública. Os danos off-line resultantes da fala on-line são comprovadamente reais e o que impulsiona nossa política e aplicação acima de tudo”, escreveu Dorsey.

No entanto, o CEO do Twitter também fez uma espécie de mea-culpa ao dizer que a atitude representava uma falha da rede social em promover uma “conversa saudável” e também abria um precedente “perigoso”. “Ter que banir uma conta tem ramificações reais e significativas. Embora haja exceções claras e óbvias, acho que uma proibição é uma falha nossa em promover uma conversa saudável. (…) Ter que realizar essas ações fragmenta a conversa pública. Eles nos dividem. Eles limitam o potencial de esclarecimento, redenção e aprendizado. E abre um precedente perigoso: o poder que um indivíduo ou empresa tem sobre uma parte das conversas globais públicas”, explicou.

Na sequência, Dorsey mencionou o fato de o Facebook e o Instagram também terem tomado atitudes em relação às contas do presidente. No caso, as duas redes sociais comandadas por Mark Zuckerberg optaram por suspender o acesso de Trump por tempo indefinido, pelo menos até a posse do presidente eleito Joe Biden no próximo dia 20. Recentemente, o Youtube e o Snapchat se juntaram à lista de redes sociais em que o republicano não é bem-vindo. A plataforma de vídeos suspendeu o canal de Trump por sete dias, enquanto o Snapchat tomou decisão semelhante à do Twitter, banindo o presidente definitivamente.

“Se as pessoas não concordarem com nossas regras e aplicação, elas podem simplesmente procurar outro serviço de internet. Este conceito foi desafiado na semana passada, quando vários fornecedores de internet fundamentais também decidiram não hospedar o que consideraram perigoso. Não acredito que isso tenha sido coordenado. É mais provável que as empresas tiraram suas próprias conclusões ou foram encorajadas pelas ações de outros. Este momento pode exigir essa dinâmica, mas a longo prazo será destrutivo para o nobre propósito da internet aberta. Uma empresa que toma a decisão comercial de se moderar é diferente de um governo que remove o acesso, mas pode parecer a mesma coisa (…). Tudo isso não pode destruir uma internet global livre e aberta”, concluiu Dorsey.

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