Colômbia e guerrilha do ELN assinam acordo de cessar-fogo por seis meses
Documento prevê a criação de um canal de comunicação entre as partes através do representante especial do secretário-geral das Nações Unidas
O governo da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional (ELN) assinaram, nesta sexta-feira, 9, um acordo de cessar-fogo temporário de seis meses. “Aqui nasce um novo mundo, aqui acaba uma fase de insurgência armada na América Latina com seus mitos e realidades”, disse o presidente colombiano, Gustavo Petro, durante a assinatura do acordo, na presença do líder máximo do ELN, Antonio García, contra quem havia uma ordem de captura até esta semana. O texto, assinado pelos chefes das negociações do governo colombiano, Otty Patiño, e do ELN, Pablo Beltrán, contempla “dar cumprimento imediato aos acordos de Cuba”, que preveem “o cessar-fogo bilateral nacional e temporário”, disse o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, ao ler os pontos do documento. A assinatura, na qual também esteve presente o presidente cubano Miguel Díaz-Canel, ocorreu no encerramento do terceiro ciclo da Mesa de Diálogos de Paz, iniciado em 2 de maio, em Havana. Antonio García, que surpreendeu ao viajar para Havana, foi cauteloso: “Não assinamos acordos substanciais”, apenas “acordos de procedimento”, afirmou. O documento assinado nesta sexta prevê a criação de “um canal de comunicação entre as partes através do representante especial do secretário-geral das Nações Unidas na Colômbia”. O acordo contempla que, a partir de 3 de agosto, vão começar a “contar os 180 dias de vigência” desta trégua, assim como a implementação dos protocolos e do mecanismo de monitoramento e verificação, que serão acordados nos próximos dias.
A última tentativa de negociação de paz entre as partes começou em 2018, mas foi frustrada um ano depois por um atentado do ELN com carro-bomba contra uma academia de polícia, que deixou 22 mortos. No fim de 2022, Petro, primeiro presidente de esquerda da Colômbia e ele mesmo um ex-guerrilheiro, impulsionou este processo, iniciado em novembro, na Venezuela, e que prosseguiu em março passado no México. As negociações ficaram na corda bamba no fim de março, devido a um ataque com armas longas e explosivos, que deixou dez militares mortos perto da fronteira com a Venezuela. Abalada por mais de meio século de conflito armado, a Colômbia tentou várias negociações de paz com os grupos armados, muitas delas fracassadas.
Fundado em 1964, o ELN tinha 5.850 combatentes em 2022, segundo autoridades colombianas, e é a guerrilha em atividade mais antiga da América Latina. “Este processo de paz tem que ser diferente, temos que ver mudanças”, afirmou o líder da guerrilha guevarista, inspirada na revolução cubana. Patiño, negociador do governo colombiano, coincidiu em que “os desafios são muitos, mas vale à pena […] enfrentá-los todos”. O chanceler cubano informou que a quarta rodada de negociações será realizada em Caracas, na Venezuela, entre 14 de agosto e 4 de setembro. A única trégua bilateral pactuada entre as duas partes vigorou por 101 dias entre 2017 e 2018. O secretário-geral da ONU, António Guterres, cumprimentou o governo da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional. “Estes são passos importantes que dão esperança ao povo colombiano, especialmente às comunidades mais afetadas pelo conflito”, ressaltou a organização em nota.
*Com informações da AFP
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