EUA ordenam fechamento de consulado chinês no Texas e China fala em retaliação

Uma das possibilidades estudadas por Pequim é o fechamento do consulado americano em Wuhan

  • Por Jovem Pan
  • 22/07/2020 09h42 - Atualizado em 22/07/2020 09h43
EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS Donald Trump As disputas recentes entre os dois países já incluíram a emissão de regras de viagem semelhantes aos da Guerra Fria

Após acusar hackers chineses de tentarem roubar estudos sobre uma vacina para a Covid-19, o governo dos Estados Unidos determinou o fechamento do consulado da China em Houston, no Texas, em 72 horas. A medida, segundo anúncio feito pelo Departamento de Estado americano nesta quarta-feira, 22, visa “proteger a propriedade intelectual americana e as informações privadas dos americanos”. Em resposta, a China afirmou que iria retaliar a decisão e a qualificou como provocação política.

“Ordenamos o fechamento do consulado da República Popular da China em Houston para proteger a propriedade intelectual americana e a informação privada dos cidadãos”, disse a porta-voz Morgan Ortagus, durante visita do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, a Copenhague (Dinamarca). “A China se envolve há anos em operações ilegais de espionagem nos Estados Unidos contra funcionários do governo dos EUA e cidadãos americanos”.

A decisão de fechar o consulado, um passo incomum e grave nas relações bilaterais, representa uma escalada significativa dos esforços americanos para ampliar o controle sobre diplomatas, jornalistas, acadêmicos e outros cidadãos chineses nos Estados Unidos. Ela ocorre em meio a crescentes tensões agravadas pela pandemia do novo coronavírus. “Os Estados Unidos não vão tolerar qualquer violação da nossa soberania nem intimidação do nosso povo por parte da China, como tampouco toleramos as práticas comerciais injustas, o roubo dos empregos americanos e outros comportamentos. O presidente Trump insiste na justiça e na reciprocidade em nossas relações”, acrescentou a porta-voz.

As disputas recentes entre os dois países já incluíram a emissão de regras de viagem semelhantes aos da Guerra Fria para diplomatas e a exigência de que várias organizações de notícias estatais chinesas se registrassem como entidades diplomáticas. O governo também está considerando uma proibição de viagem para membros do Partido Comunista e suas famílias. Tal medida, se promulgada, poderia afetar 270 milhões de pessoas, e tem sido amplamente criticada por ser muito ampla para ser prática. A China tem cinco consulados nos Estados Unidos. O de Houston, no Texas, foi aberto em 1979. Há ainda consulados em Nova York, Chicago, Los Angeles, São Francisco e a embaixada em Washington. Segundo jornais de Houston, bombeiros foram ao consulado chinês horas após a decisão do governo americano porque documentos estavam sendo queimados no pátio do edifício. No Twitter, a polícia local disse que havia fumaça, mas não recebeu autorização para entrar no consulado.

Reação chinesa

As autoridades chinesas protestaram contra a decisão, a qual classificaram de “provocação política” que prejudicará as relações diplomáticas bilaterais. “É uma provocação política que viola gravemente o direito internacional”, denunciou Wang Wenbin, um porta-voz da diplomacia chinesa. “A China condena esta decisão escandalosa e injustificada”, disse Wang, pedindo que Washington recue, ameaçando com uma resposta “adequada” de Pequim.

“Por algum tempo, o governo dos EUA vem transferindo a culpa para a China com estigmatização e ataques injustificados contra o sistema social da China, assediando funcionários diplomáticos e consulares chineses, intimidando e interrogando estudantes chineses e confiscando seus dispositivos elétricos pessoais, até mesmo detendo-os sem causa”, ele disse. “O governo chinês é um fervoroso defensor da segurança cibernética e sempre se opôs a ataques cibernéticos”, acrescentou.

De acordo com a agência de notícias Reuters, uma das possibilidades estudadas por Pequim é o fechamento do consulado americano em Wuhan, cidade onde a pandemia do novo coronavírus começou. Os EUA têm ainda consulados em Xangai, Shenyang, Chengdu, Guangzhou, Hong Kong e a embaixada em Pequim.

Hu Xijin, editor do The Global Times, um jornal nacionalista controlado pelo Partido Comunista, considerou a ação americana ultrajante. “Isso é uma manifestação de pânico”, escreveu em nota postada no Weibo, a plataforma de mídia social chinesa. O jornal também publicou uma enquete no Twitter — que é proibido na China — pedindo aos leitores para escolher qual consulado americano deveria ser fechado.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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