Garis encerram greve em Paris, mas mobilização contra reforma da previdência continua
Manifestações chegaram ao 10º dia; nesta terça-feira, 28, o transporte público registrou ‘distúrbios’, a Torre Eiffel permaneceu fechada ao público e manifestantes quebraram as vitrines de uma loja e entraram em confronto com a polícia
Após três semanas de greve, os garis de Paris encerraram a greve que deixou até 10 mil toneladas de lixo nas ruas, em protesto contra a reforma da previdenciária, anunciou o sindicato CGT, nesta terça-feira, 28. “Suspenderemos nosso movimento de greve e bloqueio a partir de quarta-feira, 29 de março”, anunciou a organização sindical, lembrando, porém, que a luta contra a reforma do presidente liberal Emmanuel Macron “não terminou”. Desde 6 de março, os funcionários públicos do serviço de limpeza municipal, que atuam em metade dos bairros da capital, entraram em greve e também bloquearam as três usinas de incineração de lixo que atendem Paris. O fim das ações em dois desses incineradores, anunciado na sexta-feira, e a requisição de funcionamento da terceira ordenada pela polícia parisiense permitiram uma melhora da situação. Nesta terça-feira, restavam cerca de 7.000 toneladas a serem coletadas, tuitou a prefeita Anne Hidalgo. Na França, os funcionários em greve perdem a parte do salário correspondente às horas não trabalhadas.
A decisão veio no dia em que centenas de milhares de pessoas voltaram às ruas, marcando o 10º dia de protestos contra a reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron, que busca uma saída para o conflito social cada vez mais violento, mas sem revogar sua lei impopular. “A mobilização continua sendo muito importante” com “muitos jovens” nas marchas, disse o líder do sindicato CGT, Philippe Martinez, de Clermont-Ferrand (centro), para quem esta é “uma prova de que o movimento não para”. “Queremos mostrar nosso descontentamento e dizer que, mesmo sendo adolescentes (…) temos o direito de dizer que somos contra”, disse na segunda-feira Selma, enquanto bloqueava sua escola em Montreuil, ao leste de Paris. Nesta terça-feira, os trens quase não circulavam. Na capital, o transporte público registrou “distúrbios”, segundo a sua operadora RATP, e a Torre Eiffel permaneceu fechada ao público. Manifestantes vestidos com roupas pretas quebraram as vitrines de uma loja. Inicialmente os protestos são pacíficos, embora a presença de manifestantes do “black bloc” nos protestos de Paris tenha levado a várias noites consecutivas de confrontos com a polícia na semana passada.
As autoridades esperam “de 650 mil a 900 mil manifestantes” no total na França, onde mobilizaram um “dispositivo de segurança sem precedentes” de 13 mil agentes, o maior organizado até o momento. O ministro do Interior, Gérald Darmanin, alertou para a presença em Paris de “mais de 10 mil radicais, alguns procedentes do exterior”, enquanto o governo tenta criminalizar os protestos, que continuam tendo grande apoio popular. No entanto, a gestão policial dos protestos contra as reformas, assim como a manifestação contra uma barragem agrícola que deixou duas pessoas em coma no sábado, está na mira das organizações de direitos humanos. Desde 19 de janeiro, os sindicatos organizaram 10 jornadas de grandes protestos contra o projeto impopular, que se intensificaram em meados de março, quando Macron adotou a reforma por decreto para evitar uma derrota no Parlamento.
As últimas manifestações foram marcadas por distúrbios e confrontos entre manifestantes radicais e forças de segurança nas grandes cidades. Na quinta-feira, havia 457 detidos e 441 policiais e gendarmes feridos, segundo as autoridades. Nesse contexto de crescente tensão, o governo e os sindicatos buscam formas de acalmar as coisas, mas permanecem firmes em suas posições: os sindicatos querem a retirada ou suspensão da reforma, e Macron diz que não. O presidente liberal está sob pressão. A maioria dos franceses o considera responsável pela situação atual por não querer ouvir as críticas sobre uma reforma que o governo considera crucial para evitar um déficit no fundo das aposentadorias. Dois em cada três franceses, segundo as pesquisas, se opõem a esta reforma que aumenta a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030 e antecipa para 2027 a exigência de contribuir por 43 anos (e não 42 como agora) para receber uma aposentadoria completa.
*Com agências internacionais
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.