Guatemala: manifestantes pedem renúncia do presidente e incendeiam Congresso

Os protestos começaram depois que o Congresso Nacional aprovou um orçamento bilionário que prioriza as necessidades de quem está no poder em detrimento da população, que sofre com a pobreza

  • Por Bárbara Ligero
  • 25/11/2020 13h12
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EFE/Esteban Biba Policial trabalha na dispersão dos responsáveis pelo incêndio e pela vandalização no Congresso Nacional da Guatemala

Neste sábado, 21, milhares de manifestantes protestaram contra o presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei, em frente ao Palácio Nacional da Cultura. A menos de um quilômetro dali, cerca de cem pessoas encapuzadas incendiaram o Congresso Nacional até a chegada da Polícia Civil, que utilizou bombas de gás lacrimogênio para dispersar a multidão e permitir que os bombeiros pudessem apagar o fogo. Segundo informações da imprensa local, houve pelo menos 37 prisões e 22 feridos, sendo que nenhuma autoridade pública estava dentro do edifício no momento do ataque.

A revolta teve origem na quarta-feira, 18, quando o Congresso Nacional aprovou um orçamento de 99,7 bilhões de quetzais, o equivalente a 68,9 bilhões de reais, para atender interesses particulares dos grupos que estão no poder. Enquanto reduziam o montante destinado aos hospitais e à educação, os parlamentares destinavam o dinheiro para alimentar a si próprios e construir um novo edifício. O orçamento, que seria financiado através do aumento da dívida pública, causou revolta na população, composta 59,3% por cidadãos que vivem em situação de pobreza. Levantamentos indicam, ainda, que metade das crianças com menos de 5 anos sofrem de desnutrição no país.

Os protestos contra o presidente Alejandro Giammattei acontecem em um contexto de falta de transparência sobre a maneira com que o governo está utilizando os recursos destinados ao combate da Covid-19 e algumas semanas depois do país da América Central ser atingido pelo furacão Eta, que deixou pelo menos 60 mortos e dezenas de pessoas desaparecidas na Guatemala. Além disso, há anos a nação sofre com o chamado “pacto dos corruptos”, uma aliança entre os políticos, o setor privado e as máfias do narcotráfico que levou o ex-presidente Otto Pérez Molina a renunciar em 2015.

Dois dias depois do Congresso Nacional aprovar o orçamento bilionário, a repercussão do assunto já indicava a iminência de protestos populares. Por isso, na sexta-feira, 20, o vice-presidente Guillermo Castillo sugeriu a Alejandro Giammattei que ambos abdicassem dos seus cargos. O presidente, porém, não deu ouvidos ao conselho e tentou defender a aprovação do orçamento. Isso acabou causando ainda mais descontentamento da população, que convocou uma manifestação maciça para o sábado. Na ocasião, os setores democráticos do país já avisaram que infiltrados poderiam se utilizar de atos violentos que tirariam a legitimidade do protesto pacífico dos demais cidadãos – o que de fato acabou se concretizando.

No domingo, 22, após as manifestações e o incêndio no Congresso Nacional, Giammatei afirmou que, apesar de existir o direito de protesto no país, ele não permitirá que bens públicos ou privados sejam vandalizados. Através da sua conta oficial no Twitter, ela afirmou que a lei recairá em “quem quer que seja comprovada sua participação nesses atos criminosos”. No mesmo dia, o governo do país emitiu um comunicado declarando que os confrontos “não representam formas legítimas de liberdade de expressão” e que os responsáveis estavam buscando “forçar” um golpe de Estado. Ainda através de suas redes sociais, Giammatei divulgou que está dialogando com “todos os setores” para responder integralmente às necessidades da população, com ênfase nas temáticas de saúde, desnutrição, segurança, justiça, educação e recuperação econômica.

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