Mais um governo progressista chega ao fim
Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá pelos últimos nove anos, renunciou ao cargo nesta segunda-feira, referendando a sua perda de prestígio político em seu país
Os ventos da mudança dos prumos políticos na América do Norte chegaram também na parte mais setentrional do continente no começo deste novo ano, após a crise que se estendia no Canadá nos últimos meses, obrigar o impopular primeiro-ministro, Justin Trudeau a abandonar sua posição na liderança do governo e de seu partido. Quando assumiu suas funções em novembro de 2015, o jovem político liberal e progressista, era visto como uma face nova na política canadense, mas com um sobrenome conhecido. Seu pai, Pierre Trudeau, também foi primeiro-ministro do país, em um período de crescimento econômico e de destaque do Canadá no cenário internacional. Hoje seu filho governa um país diametralmente diferente.
Os últimos nove anos representaram não só uma grande mudança para o Canadá, mas também par o mundo. O crescimento econômico e a era do multilateralismo fraterno parecem ter ficado para trás em um mundo com muitas nações ricas em recessão e o retorno do protecionismo. Com isso, os governos que não se adequaram às mudanças dinâmicas de um mundo em crise, não sobrevivem. Se não bastasse o anacronismo da liderança de Trudeau, as prioridades que estipulou, agradaram a elite urbana canadense, enquanto frustraram a grande classe média e classe baixa de todas as regiões do país. Sua ideologia progressista em relação às fronteiras, trouxe um rápido crescimento demográfico para as principais cidades do Canadá, e mesmo suprindo a falta de mão de obra em alguns setores, transformaram o mercado imobiliário em algo insustentável. O alto custo dos aluguéis, somados à inflação dos alimentos, tornou a vida nos grandes centros mais cara do que nunca.
A ideologia progressista de Trudeau também foi fortemente guiada pelas políticas verdes de todos os demais governos de esquerda no Ocidente, não apenas priorizando as novas tecnologias não poluentes, mas onerando aqueles que utilizam os métodos ainda poluentes. Em um país tão grande e com uma vasta classe média, punir os carros a combustão e tornar a energia elétrica um bem extremamente caro, é escolher perder o apoio popular. Esse cenário mais moralista que eficiente, fez com que cerca de 25% dos canadenses sejam considerados pobres atualmente, um número alarmante para uma nação do G7 e uma economia tão próspera no aspecto macroeconômico.
Em meio a essa crise, há o crescimento de uma liderança conservadora que fala de maneira descomplicada e com uma mensagem que é facilmente entendida por milhões de canadenses. Pierre Poilievre, líder do principal partido de oposição, usa os números preocupantes da violência urbana, da inflação de itens básicos e da pobreza para explicar aos canadenses, como o país chegou a essa posição tão frustrante e de maneira tão rápida. Os discursos acalorados entre Trudeau e Poilievre em Ottawa foram mais favoráveis ao opositor do que ao incumbente e as mais recentes pesquisas mostram que apenas 16% do eleitorado escolheria os liberais, contra 45% que escolheria dar o governo aos conservadores.
A inabilidade de contornar uma crise também agravada pelas recentes rusgas com o futuro presidente norte-americano Donald Trump, apenas anteciparam a queda esperada de Trudeau. Agora o partido liberal terá pouco tempo para encontrar um novo líder que seja competitivo, carismático e que consiga se desassociar da negativa imagem do atual primeiro-ministro antes das próximas eleições. A tarefa é desafiadora e provavelmente inócua, já que tudo indica que o próximo primeiro-ministro canadense virá da oposição.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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