Papa Francisco viaja ao Iraque apesar da Covid-19 e de ataques aéreos

Para minimizar os riscos, pontífice se deslocará em veículo blindado e participará de eventos com não mais que 100 pessoas, com exceção de uma missa para 10 mil fiéis em um estádio da cidade de Erbil

  • Por Jovem Pan
  • 05/03/2021 08h56 - Atualizado em 05/03/2021 11h53
EFE/EPA/IRAQI PRIME MINISTER'S OFFICE HANDOUT Primeiro-ministro do Iraque, Mustafa Al-Kadhimi, ao lado do papa Francisco durante reunião em Bagdá Apesar da tensão em torno da visita, o papa se negou a cancelar ou adiar a viagem

O Iraque recebe a visita de um líder da Igreja Católica pela primeira vez na história. Nesta sexta-feira, 5, o papa Francisco desembarcou em Bagdá para uma estadia de três dias no país do Oriente Médio. “Há muito tempo que quero encontrar com estas pessoas que sofreram tanto”, afirmou o pontífice no início dessa semana. A viagem, que já estava gerando preocupação devido à pandemia do novo coronavírus, pareceu ainda mais arriscada após o ataque com foguetes a uma base militar dos Estados Unidos no Iraque nesta quarta-feira, 3. No entanto, o Santo Padre se negou a adiar ou cancelar a viagem mencionando o seu desejo de cumprir uma promessa feita pelo falecido papa João Paulo II que, em 1999, teve que cancelar a sua ida ao país devido a negociações infrutíferas com o então presidente iraquiano Saddam Hussein. “Não se pode decepcionar pela segunda vez este povo”, defendeu o papa Francisco, dizendo ainda que visitará o país como “peregrino da paz, depois de anos de guerra e terrorismo”.

O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, esclareceu à imprensa que a segurança é sempre de responsabilidade do país que hospeda o pontífice. Para minimizar os riscos, no entanto, o papa Francisco se deslocará pelo Iraque em um veículo blindado e participará de eventos com não mais que 100 pessoas. A única exceção será uma missa para 10 mil fiéis em um estádio da cidade de Erbil, que originalmente tem capacidade para 30 mil pessoas. Bruni explicou que o Santo Padre deseja que as pessoas o vejam ali, perto delas, e que a viagem como um todo pode ser interpretada como um “ato de amor” do papa Francisco. No entanto, a programação não incluirá apenas encontros com membros da comunidade católica. O pontífice também deve se reunir com cristãos de outras vertentes, líderes políticos e até mesmo o aiatolá Ali Sistani, maior autoridade xiita do país. Em mensagem de vídeo enviada aos iraquianos nesta quinta-feira, 4, o líder da Igreja Católica manifestou o seu desejo de orar com irmãos e irmãs de outras tradições religiosas, já que para ele o povo iraquiano é como “uma única família de muçulmanos, judeus e cristãos“. Não à toa, ele escolheu para a viagem o lema “sois todos irmãos”, retirado do evangelho de Mateus.

A 33ª viagem internacional do pontificado de Francisco, no entanto, não deixa de mirar em uma comunidade católica que vem se reduzindo ao longo dos anos. Dados levantados pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que auxilia grupos que sofrem perseguição religiosa, indicam que a população cristã do Iraque caiu de 1,4 milhão em 2003 para 250 mil atualmente. Antigamente, a maioria dos cristãos vivia em Mossul, que esteve sob o domínio do Estado Islâmico de 2014 a 2017. Até o dia 8, o líder da Igreja Católica passará por esse cidade e também por Ur, a terra natal de Abraão, e Najaf, a “cidade santa” do islamismo xiita, além de Bagdá, Erbil e Qaraqosh. Por outro lado, a primeira visita de um papa a um país de maioria xiita também tem peso do ponto de vista da geopolítica: a situação do Iraque ainda está longe de ser resolvida e o país continua sendo chave para a paz no Oriente Médio como um todo.

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