Príncipe da Arábia Saudita autorizou morte de jornalista, diz relatório dos EUA

No dia anterior, o presidente Joe Biden já tinha conversado por telefone com o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud para reafirmar a importância dos direitos humanos para o governo norte-americano

  • Por Jovem Pan
  • 26/02/2021 16h28 - Atualizado em 26/02/2021 17h46
EFE/EPA/ANDY RAIN / POOL Príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman Segundo a CIA, o príncipe Mohammed bin Salman teria aprovado plano para capturar ou matar o jornalista saudita que estava exilado na Turquia

Os Estados Unidos divulgaram um relatório da Diretoria de Inteligência Nacional que aponta que o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, aprovou um plano de captura ou assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi em 2018. “Desde 2017, o príncipe herdeiro tem controle absoluto sobre as organizações de segurança e inteligência do reino, o que torna altamente improvável que as autoridades sauditas tivessem realizado tal operação sem a autorização do príncipe”, destaca o texto. Ainda segundo a inteligência norte-americana, durante o momento em que o jornalista foi morto, Bin Salman provavelmente estimulou um ambiente no qual seus auxiliares temiam falhar nas tarefas que lhes foram confiadas, dada a possibilidade de serem demitidos ou presos. “Isso sugere que é improvável que os ajudantes tenham questionado as ordens de Mohammed bin Salman ou empreendido ações sensíveis sem seu consentimento”, afirma o documento.

Os Estados Unidos também disseram que a equipe que chegou a Istambul em 2 de outubro de 2018 para matar Jamal Khashoggi incluía funcionários que trabalhavam para ou estavam ligados ao Centro Saudita de Estudos e Assuntos de Mídia na Corte Real (CSMARC). Na época, o centro era dirigido por Saud al-Qahtani, um conselheiro próximo de Bin Salman que afirmou publicamente que jamais tomou decisões sem a aprovação do príncipe. O esquadrão de ataque também incluiu sete membros da segurança pessoal de Bin Salman, um ramo da Guarda Real Saudita encarregado de proteger o príncipe herdeiro e responder apenas às suas ordens.

Conhecido por suas críticas à família real, o jornalista saudita Jamal Khashoggi tinha 59 anos e trabalhava para o jornal norte-americano The Washington Post quando foi assassinado. Ele morreu enquanto visitava o Consulado da Arábia Saudita na Turquia. A Agência Central de Inteligência (CIA) já vinha apontando o príncipe como suspeito de ordenar a morte de Khashoggi, mas a alegação nunca havia sido corroborada pelas autoridades norte-americanas até agora. Enquanto Donald Trump era acusado de ser permissivo com as violações dos direitos humanos cometidas pela Arábia Saudita, o atual presidente Joe Biden fez questão de ressaltar que o assunto é de grande importância para os Estados Unidos durante um telefonema com o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud feito nesta quinta-feira, 25. De acordo com a emissora de televisão britânica BBC, a Casa Branca está agora considerando cancelar acordos de armas vigentes e limitar futuras vendas militares para a Arábia Saudita.

Enquanto isso, o país árabe nega o envolvimento do príncipe Mohammed bin Salman e atribui a morte de Jamal Khashoggi a uma equipe de agentes “desonestos” que tinham sido enviados para trazer o jornalista de volta à Arábia Saudita. Oito pessoas foram condenados a 20 anos de prisão pelo crime. Os procuradores do caso afirmaram que os homens injetaram uma grande quantidade de drogas no jornalista, que acabou sofrendo uma overdose. Seu corpo teria sido então desmembrado e entregue a um outro cúmplice que esperava do lado de fora do consulado saudita em Istambul. Os restos mortais de Khashoggi, que tinha então 59 anos de idade, nunca foram encontrados.

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