Prisão da ex-presidente interina Áñez causa tensões internacionais e legislativas na Bolívia

Governo de Luis Arce enfrenta críticas dentro do país e fora, com declarações dos Estados Unidos e Brasil

  • Por Jovem Pan
  • 18/03/2021 21h26
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EFE/Stringer ex-presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, sendo presa Jeanine Añez ao chegar na prisão na Bolívia

A prisão da ex-presidente interina boliviana Jeanine Áñez gerou tensões no Parlamento nacional entre integrantes do governo e opositores, além de apoios e críticas de fora e dentro do governo de Luis Arce. Internamente, o impasse chegou nesta quinta-feira, 18, ao Legislativo, onde houve uma sessão da Câmara dos Deputados em que o partido no poder buscava aprovar uma resolução contra o que vê como “interferência” da Organização dos Estados Americanos (OEA) pelos pronunciamentos da entidade sobre a situação de Áñez. O Movimento Rumo ao Socialismo (MAS) já havia aprovado uma resolução nessa linha no Senado na véspera e promovido o mesmo na Câmara dos Deputados, em meio a protestos furiosos das bancadas opositoras de Comunidade Cidadã e Creemos.

A tensão foi tamanha que, quando o deputado opositor Erwin Bazán compareceu à Câmara para falar com a liderança, dois parlamentares pró-governo o puxaram pelo braço, sendo forçado a voltar ao corredor do plenário, onde se iniciou uma discussão entre parlamentares de ambos os lados. A oposição gritava que “MAS é violência” e “fraude”, enquanto o partido no poder exclamava as palavras “justiça” e “assassinos”. O Movimento ao Socialismo acabou se impondo como maioria para aprovar a resolução, que foi rejeitada pelas bancadas da oposição, como aconteceu no Senado.

Governo de Arce tem problemas internacionais

Além dos embates internos, o governo de Arce está envolvido em outro imbróglio com o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, o qual culpa pela saída do ex-presidente Evo Morales do poder em 2019, episódio que o atual governo trata como golpe de Estado. A OEA e o governo boliviano trocaram nos últimos dias críticas, acusações e avisos de ações pelos respectivos comportamentos. Os governos de Cuba e México e a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), todos aliados do MAS, expressaram repúdio à “interferência” de Almagro no chamado caso chamado “golpe de Estado”, pelo qual Áñez foi presa.

O governo de Arce expressou desconforto em relação aos pronunciamentos dos Estados Unidos e do governo de Jair Bolsonaro sobre a situação na Bolívia. No sábado, os EUA insistiram para que a Bolívia “defenda” os direitos civis interamericanos, embora não tenham mencionado explicitamente a prisão de Áñez. Na terça-feira, o governo brasileiro expressou “preocupação” com a prisão da ex-presidente interina e destacou o apoio dado a Áñez quando substituiu Evo Morales “de maneira constitucional”.

O Ministério das Relações Exteriores boliviano informou na noite passada que, em reuniões realizadas separadamente, o chanceler da Bolívia, Rogelio Mayta, disse à encarregada de negócios dos EUA, Charisse Phillips, e ao embaixador brasileiro, Octavio Dias, que deveriam “abster-se” de “intervir” nos assuntos internos. O Senado do Paraguai também se pronunciou, pedindo que as autoridades bolivianas respeitem os direitos processuais da ex-mandatária interina.

Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, conversou com Arce e ressaltou a importância do respeito aos direitos humanos e da garantia de julgamentos justos após as prisões de Áñez e dois ex-ministros. Jeanine Áñez está presa desde a segunda-feira, enquanto é investigada pelo caso chamado “golpe de Estado”, no qual é acusada de “sedição e terrorismo” em 2019, após as questionadas eleições que resultaram na renúncia de Evo Morales à presidência.

*Com informações da EFE

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