Ordens católicas pedem perdão por abusos de menores na Irlanda do Norte
Dublin, 14 jan (EFE).- As ordens católicas Irmãos de la Salle e Irmãs de Nazaré pediram perdão nesta terça-feira pelos abusos de menores que estiveram sob seus cuidados no século passado em centros de amparo da Irlanda do Norte.
Um tribunal especial iniciou na segunda-feira a maior investigação pública desenvolvida no Reino Unido sobre abusos cometidos e instituições da Irlanda do Norte regidas por religiosos e organismos estatais entre 1922 e 1995.
Durante a segunda audiência, o advogado dos Irmãos de la Salle, Kevin Rooney, disse hoje que os religiosos “reconhecem o sofrimento e dor” que causaram às “vítimas dos abusos”, ao mesmo tempo em que assumem “fracassos” nos mecanismos de proteção do menor.
“Os religiosos reconhecem e lamentam profundamente que crianças que estiveram sob seus cuidados tenham sido vítimas de abusos. Eles desejam oferecer uma desculpa sincera e sem reservas”, manifestou o representante legal da ordem católica.
Na sua opinião, esta investigação especial “representa a última oportunidade” para “saber exatamente o que ocorreu” nos centros de amparo de menores mais desfavorecidos da Irlanda do Norte durante 73 anos.
“O fato de que alguns irmãos abusassem de crianças contradizia a vocação dos Irmãos de la Salle, cuja missão era zelar pelo bem-estar de crianças vulneráveis e pobres”, acrescentou Rooney.
Também o advogado das Irmãs de Nazaré, Turlough Montague, declarou hoje que a ordem de freiras “reconhece o dano causado a algumas crianças sob seus cuidados” e “pedem perdão sem reservas”.
As irmãs “olham para o futuro e esperam que sirva como lição, não só como provedoras de cuidado, mas para os cuidadores da sociedade em geral”, acrescentou.
A chamada investigação sobre Abusos Institucionais Históricos (HIA) examinará em sessões públicas durante os próximos 18 meses 263 denúncias apresentadas desde que o Governo autônomo norte-irlandês anunciou o estabelecimento deste tribunal especial em 2012.
O Executivo de Belfast, de poder compartilhado entre católicos e protestantes, pôs à frente das pesquisas o juiz aposentado Anthony Hart, que contará com um grupo de especialistas para determinar se existiram abusos físicos, sexuais ou emocionais de menores entre 1922 e 1995.
A advogada que representa o tribunal, Christine Smith, descreveu hoje alguns dos centros de amparo da província britânica, como orfanatos, internados ou hospitais, como “relíquias do passado”.
Segundo a letrada, a profunda reforma do sistema de bem-estar social que houve em Londres após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) não se transferiu a muitas das instituições de amparo de menor.
Para ilustrar seus argumentos, Smith apresentou o caso de mulher que permaneceu internada entre 1971 e 1976 e que foi objeto de várias humilhações.
De acordo com o testemunho apresentado perante o tribunal por essa mulher, seus cuidadores a obrigavam cheirar sua urina quando molhava a cama, deixavam ela pelada e a fechavam em um quarto frio, além de obrigá-la a se lavar com água fria e desinfetante. EFE
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