Papa diz que não esteve com dissidentes em Cuba porque não estava previsto

  • Por Agencia EFE
  • 23/09/2015 05h21

A bordo do avião papal, 22 set (EFE).- O papa Francisco, que chegou nesta terça-feira aos Estados Unidos, se justificou por não ter se encontrado com dissidentes políticos durante sua visita a Cuba ao afirmar que não estavam previstas audiências “com ninguém”, e, ao ser questionado sobre o fim do embargo sobre o país caribenho, desejou um acordo que “satisfaça os dois lados”.

Após deixar Cuba, o papa explicou no avião a caminho dos Estados Unidos que não teve conhecimento de que teria havido detenções de dissidentes que pretendiam se reunir com ele durante sua visita à ilha.

“O que quero dizer é que não sei”, reconheceu o papa para os meios de imprensa internacional que o acompanham a bordo do avião papal, entre eles a Agência Efe.

“Não sei se estavam ou não estavam”, declarou Francisco, após lembrar que cumprimentou muita gente em seus atos públicos em Cuba e que não sabe se, em algum momento, havia dissidentes, pois “nenhum deles se identificou”.

“Primeiro, na Nunciatura, estava bem claro que eu não teria audiências com ninguém, pois houve pedidos”, admitiu Francisco, que também esclareceu que “um chefe de Estado, inclusive” solicitou um encontro com ele, mas não quis revelar sua identidade.

Ao ser perguntado se estaria disposto a se reunir com dissidentes cubanos, o papa respondeu: “gosto de me encontrar com todas as pessoas, considero que, primeiro, toda pessoa é um filho de Deus e tem direito” a isso.

Pelo menos dois integrantes da dissidência cubana foram detidos quando, segundo seus próprios relatos, se dirigiam para ver o papa após terem recebido um convite. O próprio Vaticano revelou que houve contatos telefônicos com a dissidência para estudar a possibilidade de alguns representantes cumprimentarem o pontífice, o que não ocorreu.

Sobre o embargo dos Estados Unidos a Cuba, Francisco desejou “um acordo que satisfaça os dois lados” e lembrou que “papas anteriores falaram”, que há uma postura da Santa Sé “em relação aos bloqueios” e que a doutrina social da Igreja também se refere ao assunto.

Francisco confirmou que vai tratar do embargo no discurso que pronunciará no Congresso dos Estados Unidos, o primeiro de um papa, e reconheceu que o texto já está escrito e que está “pensando bem” no que vai dizer aos legisladores americanos, mas não quis explicar exatamente como vai fazê-lo.

O papa apenas situou o conteúdo do que dirá em Washington dentro do contexto dos “acordos bilaterais e multinacionais, como símbolo que são de progresso na convivência”.

Além disso, Francisco revelou que em seu encontro com o ex-presidente Fidel Castro os dois conversaram “muito” sobre a encíclica papal “Laudato si”, na qual o pontífice trata do meio ambiente.

“Ele está muito interessado no tema da ecologia”, explicou, “o encontro não foi tão formal, mas espontâneo. Sua família também estava presente. Além disso, meus acompanhantes, meu motorista estava lá”.

“Do passado não falamos. Bom, sim do passado, de como eram os jesuítas, de como o faziam trabalhar, de tudo isso sim”, disse o papa argentino ao ser perguntado se Fidel tinha lhe passado a sensação de que se arrependia de algo do que fez no passado.

“O arrependimento é uma coisa muito íntima. Uma coisa de consciência”, acrescentou o papa.

O pontífice se reuniu com o líder da Revolução Cubana em sua residência em Havana, depois do encontro oficial que manteve com seu irmão, o presidente Raúl Castro.

O papa Francisco terminou hoje uma visita de quatro dias a Cuba, da qual partiu rumo a Washington, onde permanecerá até quinta-feira, para depois se dirigir a Nova York, onde falará na Assembleia Geral das Nações Unidas, e Filadélfia. EFE

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