Após renúncia de José Mauro Coelho, Câmara se divide sobre CPI da Petrobras
Para Marcelo Ramos (PSD-AM), eventual recuo do governo indicará que comissão foi usada para chantagear o agora ex-presidente da estatal; autor de projeto sobre teto do ICMS diz que empreitada governista perde força
A renúncia de José Mauro Ferreira Coelho do comando da Petrobras impacta diretamente os planos da Câmara dos Deputados. Nos últimos dias, com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), a cúpula da Casa e aliados do Palácio do Planalto passaram a articular a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar, em especial, a conduta da diretoria da estatal. Parlamentares ouvidos pela Jovem Pan se dividem sobre a viabilidade, a força e a necessidade de uma investigação desta natureza nesse momento. A reunião de líderes convocada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para a tarde desta segunda-feira, 20, deve definir o plano de voo dos congressistas.
Líder do PL, partido de Bolsonaro, o deputado Altineu Cortes (PL-RJ) diz a renúncia de José Mauro Ferreira Coelho deixa os parlamentares “desconfiados”. “Agora que estamos mais desconfiados! Por que ele fez a reunião para dar esse aumento e depois renunciou?”, disse em mensagem enviada à reportagem. “A CPI é viável, sim, porque é o único instrumento legislativo com capacidade de esmiuçar processos internos da Petrobras, inclusive quebrando sigilos, para sabermos com todos os detalhes e esclarecer os fatos em toda sua extensão. Qual é o verdadeiro custo corporativo da Petrobras? Ninguém sabe”, avalia Sanderson (PL-RS), vice-líder do governo na Câmara. O deputado federal Danilo Forte (União Brasil-CE), autor do texto que fixou em 17% o teto do ICMS que incide sobre combustíveis, energia, transporte e telecomunicações, afirma que a queda de Coelho “com certeza” enfraquece a empreitada governista em favor da CPI. O deputado Marcelo Ramos (PSD-AM), por sua vez, defende a instalação do colegiado. De acordo com o parlamentar amazonense, crítico ferrenho do governo Bolsonaro, é necessário ouvir Coelho para esclarecer as circunstâncias de sua saída. “Acho que agora que tem que ter mesmo. Ele [José Mauro Ferreira Coelho] deve ser o primeiro ouvido para dizer que tipo de pressão sofreu, de quem e porque renunciou. Se recuarem da CPI vai ficar claro uma atitude que não é republicana: ameaçar CPI para chantagear”, afirmou em conversa com o site da Jovem Pan.
Como a Jovem Pan mostrou, aliados de Lira e parlamentares ligados ao Palácio do Planalto temem que a CPI se transforme em munição da oposição para desgastar o governo em um ano eleitoral, uma vez que cabe à União indicar o presidente e integrantes do Conselho de Administração da Petrobras. “Mantenho meu apoio à CPI da Petrobras. Trocar o presidente não muda a orientação, ao que parece. Espero que Bolsonaro mantenha a sua posição”, disse à reportagem o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP). No sábado, 18, em evento da Igreja Ministério Internacional da Restauração, em Manaus, capital do Amazonas, o presidente da República disse que o pedido para a criação da comissão parlamentar de inquérito sairia nesta segunda-feira, 20. “Conversei ontem [sexta-feira, 17] com o líder da Câmara para a gente abrir uma CPI segunda-feira. Vamos para dentro da Petrobras”, afirmou.
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