‘Capitã cloroquina’ e convocação de novos depoentes: como será a quarta semana da CPI da Covid-19

Secretária Mayra Pinheiro, do Ministério da Saúde, será ouvida na terça-feira, 25, e deve ser questionada sobre o aplicativo ‘TrateCov’; ministro Ricardo Lewandowski permitiu que ela fique em silêncio sobre crise de oxigênio no Amazonas

  • Por André Siqueira
  • 23/05/2021 14h00
WALLACE MARTINS/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Mayra Pinheiro Em depoimento à CPI, o ex-ministro Eduardo Pazuello afirmou que ideia para criação do 'TrateCov' partiu da secretária da Gestão do Trabalho e Educação na Saúde

Desde que foi instalada, a CPI da Covid-19 ouviu os depoimentos de oito pessoas, convocadas para prestar esclarecimentos que possam auxiliar os senadores a elucidar as razões que levaram o Brasil a ultrapassar a trágica marca de mais de 435 mil mortes causadas pelo coronavírus. Até o momento, passaram pela comissão ex-ministros da Saúde e das Relações Exteriores, o atual comandante do Ministério da Saúde, Marcelo Queiroga, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, o ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten, e o ex-presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo. Se as primeiras oitivas foram marcadas por perguntas relacionadas à compra de vacinas e à insistência do governo federal na defesa do uso de um remédio sem comprovação científica para o tratamento da doença, a próxima semana jogará luz sobre a crise do oxigênio no Amazonas, onde, no início do ano, pacientes morreram asfixiados por falta do insumo.

Na terça-feira, 25, os senadores receberão a secretária da Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”, o único depoimento confirmado para a próxima semana. Sua oitiva estava inicialmente marcada para a quinta-feira, 20, mas foi adiada em razão da segunda parte do depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, iniciado na manhã de quarta. A servidora, que concorreu ao cargo de senadora em 2018, mas não se elegeu, ingressou com um pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para que pudesse ficar em silêncio e, primeiramente, o recurso foi negado pelo ministro Ricardo Lewandowski. No entanto, após pedido de reconsideração apresentado pela defesa de Mayra, o membro da Corte permitiu que ela não comente sobre a crise de oxigênio em Manaus. “Diante das alegações e dos documentos agora apresentados, esclareço que assiste à paciente o direito de permanecer em silêncio – se assim lhe aprouver –quanto aos fatos ocorridos no período compreendido entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021”, afirmou trecho da decisão emitida nesta sexta-feira, 21. O ministro informou, ainda, que o resto da decisão feita por ele na última terça-feira, 18, continua mantido.

À CPI, Pazuello afirmou que o aplicativo “TrateCov”, que receitava cloroquina e outros medicamentos do chamado “kit Covid” para qualquer paciente, incluindo recém-nascidos e gestantes, foi uma sugestão da secretária. A iniciativa, segundo o general do Exército, tinha o objetivo de “facilitar o diagnóstico” da doença. Em depoimento prestado ao Ministério Público Federal (MPF), ela admitiu que foi responsável pelo planejamento da viagem de uma comitiva de médicos que difundiu o uso de cloroquina e ivermectina, medicamentos sem comprovação científica para o tratamento da doença, em Manaus, um dia antes de o sistema de saúde da capital do Estado do Amazonas entrar em colapso. Na quarta-feira, em sessão deliberativa, os senadores vão votar requerimentos de informações e de convocações para as próximas semanas. Por isso, o calendário de depoimentos deve ser modificado. Até o momento, já estão convocados Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, Nísia Trindade Lima, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fernando de Castro Marques, presidente da União Química, representante da vacina russa Sputnik V no Brasil, Marcellus Campêlo, secretário de Saúde do Amazonas, a médica Nise Yamaguchi e a diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck.

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