Com Bolsonaro de olho, eleição em SP tem profusão de candidaturas e expõe racha na base de apoio

Escolha dos nomes para o governo do Estado causou troca de farpas entre filho do presidente e ex-ministro; pré-candidata ao Senado, Janaina Paschoal ironiza estratégia: ‘Vamos dar sustentação a Lula’

  • Por André Siqueira
  • 23/01/2022 14h00
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo - 11/11/2021 O presidente Jair Bolsonaro, de terno preto, camisa branca e gravata azul, sentado, coça a cabeça em frente a uma parede laranja DF - BOLSONARO/LANÇAMENTO/COMIDA NO PRATO - POLÍTICA - O Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), durante Solenidade de Lançamento do Programa "Brasil Fraterno - Comida no Prato", no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), nesta quinta-feira, 11 de novembro de 2021. O programa assistencial visa proporcionar a facilitação de doações de alimentos "por empresas com isenção de ICMS", segundo informações divulgadas pelo governo.

A campanha eleitoral ainda está longe de seu início, mas as primeiras semanas de 2022 têm sido marcadas por uma série de movimentações de postulantes a cargos eletivos. Em um período em que boa parte das tratativas ocorrem nos bastidores, o presidente Jair Bolsonaro e o seu entorno têm se envolvido direta e publicamente na construção de candidaturas em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. O caso paulista é simbólico, porque evidencia um racha na base de apoio ao mandatário do país, que trabalha para eleger o maior número de parlamentares aliados, sobretudo no Congresso Nacional, a fim de conquistar sustentação política para um eventual segundo mandato a partir de janeiro de 2023.

Em entrevista à Jovem Pan, na quarta-feira, 19, Bolsonaro disse que convidou a ministra Damares Alves para concorrer ao Senado por São Paulo. “Posso adiantar uma possível senadora para São Paulo. Ministra Damares. Possível candidata ao Senado, não está batido o martelo, não. O convite foi feito, o Tarcísio gostou dessa possibilidade. Conversei com a Damares e ela ainda não se decidiu”, afirmou. Enquanto não há definição sobre o candidato que receberá a benção do presidente da República, o eleitor bolsonarista se depara com uma profusão de postulações à disposição. Antes de Damares, pelo menos dois outros nomes já haviam sido aventados por aliados do Palácio do Planalto, casos do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e do ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Paulo Skaf.

Fora do núcleo duro bolsonarista, o jornalista e apresentador José Luiz Datena e a deputada estadual Janaina Paschoal, mais votada da história do país, se apresentam como pré-candidatos ao Senado por São Paulo. A advogada, que deixará o PSL e busca um partido para viabilizar a sua candidatura, se declara independente em relação ao governo e questiona a estratégia eleitoral adotada por Bolsonaro. Em uma postagem no Twitter, feita um dia após o presidente da República apontar o nome de Damares, a parlamentar ironizou: “Com a habilidade que Bolsonaro tem para (re)unir a direita, em 23 teremos um Senado vermelho para dar sustentação a Lula”. Procurada pela Jovem Pan, Janaina disse que não se sente desprestigiada por não ter recebido, até o momento, o apoio do Palácio do Planalto e ressalta que não espera o aval ou o apoio “de quem quer que seja”. “Não me sinto desprestigiada. A democracia pressupõe a liberdade de votar e ser votado. Só não me parece inteligente, na medida em que a esquerda, corretamente, vem buscando a união. Eu anunciei a minha pré-candidatura sem consultar ninguém. E não estou esperando aval ou apoio de quem quer que seja. Se encontrar um partido, vou me candidatar ao Senado, por entender que eu sou a melhor opção, em São Paulo, para o cargo. Se vou ganhar, ou perder, somente Deus e o povo dirão”, disse à reportagem.

O prenúncio de choque entre as candidaturas não ocorre apenas no Senado. Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha afirmado diversas vezes que trabalha para ter o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, como sucessor do governador João Doria no Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub desembarcou no Brasil no sábado, 15, para cumprir uma série de agendas com o intuito de se viabilizar como postulante ao cargo de governador. As primeiras movimentações de Weintraub, no entanto, foram o estopim para uma troca de farpas que envolve, inclusive, o filho do chefe do Executivo federal, deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Tudo começou depois do secretário-especial da Cultura, Mario Frias, curtir uma publicação de um internauta que afirmava que Abraham Weintraub poderia ser preso. O ex-ministro rebateu e escreveu que Frias apoia sua “prisão ilegal”. Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro e ex-assessor especial da Presidência condenou “o like de membro do governo” e questionou se a gestão Bolsonaro não deveria “tomar atitude para obstruir prisão ilegal”. O secretário, então, voltou ao Twitter e perguntou: “Não entendi, Abraham e Arthur, por que estão chateados com uma curtida? Quantas vezes vocês deram aquela curtida marota em inúmeros perfis que chamam o presidente de frouxo, covarde e vendido para o sistema?”. Também pelo Twitter, Eduardo Bolsonaro endossou o questionamento de Frias. “Esta thread explica muito do que estava ocorrendo nos bastidores. Não se trata de dividir/unir a direita, mas separar o joio do trigo. Todo este tempo que nós engolíamos sapos na verdade era a chance para eles [irmãos Weintraub] se corrigirem, mas nada foi feito. Então agora está aí tudo às claras”, escreveu.

Como a Jovem Pan mostrou, Weintraub quer se cacifar lançando mão de um discurso inflamado para mobilizar a chamada “direita raiz”. Em uma live realizada na noite da segunda-feira, 17, o ex-ministro da Educação afirmou que os partidos do Centrão, que dão sustentação ao governo Bolsonaro, são um “grande obstáculo” aos conservadores. No domingo, 16, sugeriu que Bolsonaro sabia que o seu filho, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seria alvo da Operação Furna da Onça, que investiga o suposto esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), mas depois negou que tenha dito isso. Segundo relatos feitos à reportagem, o presidente não esconde de ninguém a insatisfação com Abraham Weintraub. A interlocutores, o mandatário do país tem comparado o ex-titular do MEC aos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Carlos Alberto Santos Cruz (Secretária de Governo), que deixaram o governo e se tornaram desafetos do clã presidencial.

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