Cortejado por Lula, PSD de Kassab embaralha o jogo e pode ser o fiel da balança nas eleições

Presidente nacional da sigla trabalha para viabilizar uma candidatura própria à Presidência, mas admite apoio da maioria do partido ao ex-presidente Lula

  • Por André Siqueira
  • 05/02/2022 14h00 - Atualizado em 05/02/2022 14h12
Valter Campanato / Agência Brasil Gilberto Kassab Ex-ministro Gilberto Kassab é o atual presidente do PSD

A pouco menos de oito meses para as eleições presidenciais, os principais postulantes ao cargo se articulam para o pleito que é apontado por observadores da cena política como o mais importante da história republicana do país. Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caminha para oficializar a formação de uma chapa com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin e as legendas do Centrão acertam os últimos detalhes para profissionalizar a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), em uma estratégia distinta daquela adotada em 2018, o PSD de Gilberto Kassab é apontado como fiel da balança para o resultado da corrida eleitoral.

Hábil estrategista, Kassab trabalhou para construir palanques robustos em três dos maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em solo paulista, os planos do ex-ministro dos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) foram atrapalhados pela aproximação de Alckmin com Lula – o ex-governador deixou o PSDB depois de 33 anos e foi convidado por Kassab para ser o candidato de sua legenda ao Palácio dos Bandeirantes. Por outro lado, no Estado do Rio, o prefeito da capital e presidente do diretório estadual, Eduardo Paes (PSD), costurou uma aliança com o PDT de Ciro Gomes. Em Minas, a sigla trabalha para que o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), derrote o governador Romeu Zema (Novo) e assuma o Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro.

Os palanques serviriam para, entre outras coisas, dar musculatura à postulação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), lançado por Kassab como candidato à Presidência da República. Apesar do desejo do cacique partidário, Pacheco não tem dado demonstrações de que colocará o bloco na rua. O desempenho nas pesquisas, ao menos até aqui, também está aquém das expectativas: em dezembro, o Datafolha apontou o senador com 1% das intenções de voto. Pessoas próximas argumentam que o parlamentar mantém a discrição porque está focado na agenda do Congresso Nacional. Correligionários, porém, apostam que o mineiro sairá de cena nas próximas semanas e focará em sua reeleição para o comando da Casa Alta do Legislativo.

Com a candidatura de Pacheco ameaçada, o PSD passou a ser cortejado pelo ex-presidente Lula, que vê em Kassab um importante operador da política para o dia a dia de seu eventual terceiro mandato. O dirigente, por sua vez, garante que seu partido terá candidatura própria. Ao Em Foco, da jornalista Andreia Sadi, da Globo News, o ex-ministro citou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), como alternativa para a terceira via, caso o presidente do Senado recue – o gaúcho foi derrotado pelo governador de São Paulo, João Doria, nas prévias tucanas que escolheram o candidato da sigla à Presidência. Na mesma entrevista, o presidente do PSD disse acreditar que, no segundo turno, a maioria da legenda apoiará o petista. “Não tenho dúvida que a expressiva maioria do partido, se o Pacheco não for para o segundo turno, acredito que ele irá, a expressiva maioria vai apoiar o Lula se for para o segundo turno”, afirmou.

A possibilidade de apoiar Lula divide a legenda. “Eu, particularmente, não apoio Lula nem no primeiro nem no segundo turno”, disse à Jovem Pan o deputado federal Darci de Matos (SC), vice-líder do PSD na Câmara. “É possível que a bancada se divida. A gente sente que mais lá para cima os políticos são mais de centro-esquerda e vão com Lula. No sul, o povo é mais conservador. Mas, se o PSD não tiver candidato ou não chegarmos ao segundo turno, acredito que o partido vai liberar [para que cada um apoie quem quiser]”, segue. “Eu não teria nenhum problema de caminhar com Lula ou de ver o PSD se aliar com Lula, indicando um vice, sei lá. Eu acho que essa pauta transformadora e progressista, para combater o aumento da miséria, a fome e esta crise terrível, é o que deveria ser encampado pelo partido. Mas gostaria que o PSD lançasse uma candidatura própria e competitiva”, afirmou à reportagem o deputado federal Fábio Trad (PSD-MS).

Apesar da indefinição, a cúpula do PSD e os interlocutores do ex-presidente Lula têm uma certeza: para manter a coesão do partido e avançar no projeto de aumentar as bancadas da sigla na Câmara e no Senado, Kassab só tomará uma decisão após o fechamento da janela partidária, em 1º de abril. “Se Kassab der um passo em falso, ele corre o risco de perder metade da bancada”, resume um líder do partido. Atualmente, a legenda possui a segunda maior bancada no Senado (11 membros) e a quinta da Câmara (35 membros). Internamente, as lideranças esperam chegar a 20 senadores e 50 deputados federais. Ninguém se arrisca a dizer para onde Kassab levará o seu partido, mas o mundo político admite, nos bastidores, que a posição do PSD no tabuleiro pode representar o xeque-mate da corrida eleitoral.

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