Recusa de Alexandre Silveira à liderança do governo no Senado é dada como certa dentro do PSD

Ala majoritária do partido, incluindo o presidente Gilberto Kassab, não quer colocar o ‘DNA da sigla’ no governo Bolsonaro

  • Por André Siqueira
  • 04/02/2022 13h13 - Atualizado em 04/02/2022 14h12
Roque de Sá/Agência Senado Parlamentar assume cadeira ocupada por Antonio Anastasia Alexandre Silveira (PSD-MG) tomou posse na quarta-feira, 4

Recém-empossado, o senador Alexandre Silveira (PSD-MG) não deve assumir o cargo de líder do governo Bolsonaro no Senado. A avaliação foi feita à Jovem Pan por três integrantes do partido. Suplente do senador Antonio Anastasia, novo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Silveira assumiu o mandato na quarta-feira, 2. Em uma live realizada no último dia 20, o presidente Jair Bolsonaro confirmou a escolha do parlamentar, mas, segundo relatos feitos à reportagem, a pressão interna do PSD, presidido por Gilberto Kassab, influenciou a reviravolta.

Bolsonaro citou Silveira em sua live quando comentava sobre a ferrovia Norte-Sul. “Tarcísio, você é mineiro? Eu também não sou. Você não tem nada contra trem não, né? Está para ser concluída a ferrovia Norte-sul, que nasce lá no Maranhão, Tocantins, Goiás e São Paulo. Você já escolheu um trecho para a gente dar um passeio? Deve ficar pronta no meio do ano. Estou combinado com o Tarcísio, três, quatro dias montado em um trem nessa ferrovia. Talvez março”, disse. “A gente vai convidar a bancada mineira, tem que convidar, né? Vamos convidar todo mundo. Vamos convidar o novo líder do governo que vai assumir agora em fevereiro, o Alexandre Vieira. É isso mesmo?”, questionou. “Silveira”, corrigiu o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas.

Como a Jovem Pan mostrou, a escolha de Bolsonaro criou um mal-estar dentro do PSD. Caciques do partido afirmam que é “inconcebível” que a sigla, que se diz independente em relação ao Palácio do Planalto, ocupe a liderança do governo no Senado. Além disso, os parlamentares contrários à ideia defendem que o convite seja rejeitado em respeito ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ainda colocado como pré-candidato à Presidência da República. Com 1% das intenções de voto, o mineiro ainda não decolou nas pesquisas de intenção de voto, mas a postulação é defendida por Gilberto Kassab, presidente nacional da legenda.

O líder do PSD no Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), marcou para a terça-feira, 8, uma reunião da bancada do PSD. Em tese, o encontro serviria para que Alexandre Silveira expusesse aos colegas o seu ponto de vista sobre o convite. Correligionários e pessoas próximas a Kassab, porém, dão a recusa como certa. Em conversa reservada com a reportagem da Jovem Pan, um importante quadro da legenda resumiu a situação da seguinte maneira: “Se não há maioria dentro de um partido, como alguém será líder de um governo?”. Segunda maior bancada do Senado, o PSD tem em seu quadros parlamentares críticos ao governo Bolsonaro, como Omar Aziz (AM), que presidiu a CPI da Covid-19, e Otto Alencar (BA), que também integrou a comissão.

“Existe uma corrente dentro do partido contrária ao PSD colocar o seu DNA dentro do governo, mas parte da bancada vê com simpatia. Eu defendo a independência do partido. Com a candidatura de Pacheco ainda colocada, ao meu ver, não ficaria bem o Silveira aceitar, porque ele foi braço-direito de Pacheco dentro do Senado. E mais: teríamos o secretário-geral do PSD assumindo a liderança [do governo Bolsonaro]”, disse à Jovem Pan o senador Angelo Coronel (PSD-BA). A Jovem Pan não conseguiu contato com Alexandre Silveira. O espaço está aberto para eventual manifestação.

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