CPI da Covid-19: ‘Operação vazou?’, disse lobista a dono da Precisa

Senadores da comissão suspeitam que dono da Precisa Medicamentos e lobista de sua empresa foram informados sobre operação da PF contra superfaturamente de testes de coronavírus

  • Por Jovem Pan
  • 26/08/2021 16h48 - Atualizado em 26/08/2021 16h54
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado Depoente conversa com advogado durante oitiva O 'passo-a-passo' da fraude foi enviado por Francisco Maximiano a José Ricardo Santana, ouvido nesta quinta-feira, 26, pela CPI

As mensagens reveladas há pouco pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Covid-19, apontam para um possível vazamento da Operação Falso Negativo, deflagrada no dia 2 de julho de 2020 pela Polícia Federal (PF), que apura superfaturamento na compra de testes rápidos. O conteúdo foi obtido pelo Ministério Público Federal (MPF) a partir do telefone celular de Marconny Albernaz Faria, lobista da Precisa Medicamentos, e repassado à comissão do Senado.

Na manhã do dia 2 de julho, Albernaz Faria envia uma mensagem às 5h11, cerca de um hora antes da deflagração da operação, a Francisco Maximiano, o dono da Precisa. A operação vazou?”, questionou. O lobista liga para Max, como é conhecido o empresário, e pede para que ele retorne a ligação. No mesmo dia, às 9h11, José Ricardo Santana, que depôs nesta quinta-feira, 26, à CPI da Covid-19, envia a Faria uma reportagem do portal O Antagonista com detalhes sobre a operação. “Já tinha visto. O Max me avisou”, respondeu Faria.

Randolfe Rodrigues questionou quem teria informado Maximiano e Albernaz sobre a realização da operação da Polícia Federal. “Quem informa o senhor Francisco Maximiano, às 5h16, sobre a operação? De onde onde vazou a informação da operação? Só quem sabe é a Polícia Federal ou do Ministério Público Federal”, disse o vice-presidente da CPI da Covid-19. “Que poder todo tem esse Max, que tem notícia de operação da PF com antecedência?”, prosseguiu.

Como a Jovem Pan mostrou, a troca de mensagens também revelou um “passo-a-passo” para a fraude de contratos de compra de testes rápidos. A operação criminosa envolvia, também, o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, que saiu preso da CPI. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) subiu o tom e perguntou se o Ministério da Saúde foi informado da operação da PF e quais providências foram tomadas. “O Ministério Público Federal do Pará e a Polícia Federal tinham conhecimento das traquinagens que estavam fazendo no Ministério da Saúde, com dados e documentos, e não pediram o afastamento de ninguém? O superintendente da PF no Pará não comunicou o Ministério da Saúde? O Pazuello? Ou comunicou? Temos que ouvir as pessoas que fizeram essa operação. Por que permitiram que continuassem dentro do Ministério da Saúde fazendo esse tipo de brincadeira em plena pandemia? Quando você não tem conhecimento, você pode até ser enganado. Mas aí, olha a prevaricação, a omissão e a complascência”, disse Aziz.

Para o presidente da CPI, trata-se de um indício de que pode ter havido uma blindagem para não “manchar” o governo Bolsonaro. “Teve deputada federal [Carla Zambelli] que anunciou que ia ter operação nos Estados, mas não poderia entrar no governo federal, porque senão ele estaria manchado. É uma operação com sinais claros para proteger alguns e mirar outros. A operação tinha que ter sido feita, quando se chega em servidores do governo federal, se permite que eles continuem no mesmo cargo, mesmo com essas provas. Isso é mais grave do que se possa imaginar. É gravíssimo. Por que o MPF e a PF permitiram que servidores como o Bob [Roberto Ferreira Dias] continuassem na Saúde? Para não manchar o governo federal”, afirmou Aziz.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.