CPI da Covid-19: Vendedor de vacina reafirma pedido de propina e tem celular apreendido
Solicitação de vantagem indevida teria partido de diretor de logística do Ministério da Saúde em um jantar em um shopping de Brasília, segundo Luiz Paulo Dominguetti
Em seu depoimento à CPI da Covid-19, Luiz Paulo Dominguetti, que representou a Davati Medical Supply em uma negociação com o governo do presidente Jair Bolsonaro, confirmou o pedido de propina feito por um diretor do Ministério da Saúde, tentou implicar o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) com a exibição de um áudio e teve seu pedido de prisão pelo crime de falso testemunho negado pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), que preside a comissão. A oitiva de Dominguetti, que também é cabo da Polícia Militar em Minas Gerais, foi marcada pela apreensão do celular do depoente e por bate-boca entre senadores. Dominguetti foi convocado a depor depois de afirmar, em entrevista à Folha de S. Paulo, que o então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina US$ 1 para cada uma das 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca que seriam vendidas ao governo federal pela Davati. Aos senadores, ele confirmou a informação, deu detalhes de um encontro que ocorreu no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, no Distrito Federal, no dia 25 de fevereiro, e que contou com a participação de Dias, do tenente-coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do departamento de logística da pasta, e de mais uma pessoa. “O pedido de propina se concretizou. O pagamento e a evolução do processo, não”, disse. No dia seguinte, ele se reuniu com o então secretário-executivo da Saúde, Elcio Franco Filho. Além disso, ele também divulgou um áudio de Luis Miranda a partir do qual acusou o parlamentar de se oferecer para intermediar compra de vacinas no Ministério da Saúde – na gravação, não há menção à palavra vacina, apenas “produto” e “carga”.
Miranda apontou um esquema de supostas irregularidades na compra da vacina Covaxin e foi ouvido pelos senadores na sexta-feira, 25 – o contrato foi suspenso pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na terça-feira, 29. Citado por Dominguetti, o deputado federal foi até o plenário da CPI da Covid-19 para se defender. Após ser retirado da comissão, ele afirmou em conversa com jornalistas que o áudio, de outubro de 2020, tratava sobre a aquisição de luvas cirúrgicas para uma de suas empresas nos Estados Unidos, onde ele já morou. “É um cavalo de Tróia plantado nesta CPI”, disse o deputado do DEM, que registrou uma ata notarial em um cartório de Brasília para comprovar que a gravação apresentada foi adulterada. A versão de que o representante da Davati seria uma “testemunha plantada” foi endossada por diversos senadores. “Tem todas as características”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) em mensagem de texto enviada à Jovem Pan. “Esse áudio é o verdadeiro bode na sala. Por que colocaram no seu colo essa granada sem pino?”, questionou a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Em razão do conteúdo, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente da comissão, solicitou a prisão de Luiz Paulo Dominguetti pelo crime de falso testemunho. O pedido foi negado por Omar Aziz. O presidente da comissão admitiu que o depoimento não contribuiu positivamente para os trabalhos da CPI, mas ressaltou que os senadores devem apurar se houve pedido de propina.
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