Crise de Manaus, Witzel e gabinete paralelo: os depoimentos desta semana na CPI da Covid-19
Ex-secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo será ouvido na terça-feira, 15; cúpula da comissão não descarta condução coercitiva de empresário convocado a depor na quinta-feira, 17
Depois da aprovação da quebra de sigilo de diversos alvos das investigações, a CPI da Covid-19 inicia mais uma semana de trabalhos com foco na crise de oxigênio que atingiu o Amazonas nos dois primeiros meses deste ano. Na terça-feira, 15, o ex-secretário de Saúde do Estado Marcellus Campêlo irá depor à comissão. Alvo da Operação Sangria da Polícia Federal (PF), que apura se funcionários da secretaria da Saúde fizeram contratação fraudulenta para favorecer um grupo de empresários locais para a construção de um hospital de campanha, sob orientação da cúpula do governo do Estado, Campelo chegou a ser preso temporariamente na quarta-feira, 2. Os requerimentos que pediram a convocação do ex-secretário foram apresentados pelos senadores Marcos Rogério (DEM-RO) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
Segundo apurou a Jovem Pan, os senadores pretendem preencher lacunas deixadas pelos depoimentos do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, do ex-secretário-executivo da pasta Elcio Franco Filho e da secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como capitã cloroquina. Os parlamentares querem esclarecer em quais datas o governo federal foi avisado da iminência da crise. À comissão, Pazuello afirmou que só teve conhecimento da situação na noite do dia 10 de janeiro. A secretária da pasta, porém, apresentou uma versão contraditória: aos membros do colegiado, ela disse que o general do Exército soube da falta de oxigênio no dia 8 de janeiro. “Eu estive em Manaus até o dia 5 [de janeiro]. O ministro teve conhecimento do desabastecimento de oxigênio em Manaus creio que no dia 8, e ele me perguntou: ‘Mayra, por que você não relatou nenhum problema de escassez de oxigênio?'”, relatou. O depoimento de Campelo também será marcado sobre questões relativas a eventuais desvios de verbas repassadas pela União ao Amazonas e o desenvolvimento do TrateCov, do Ministério da Saúde, que prescrevia medicamentos comprovadamente ineficazes para o tratamento da Covid-19, inclusive, para gestantes e recém-nascidos. Apesar de Pazuello e Mayra terem afirmado que a plataforma foi hackeada, os dois participaram de um evento, no Estado, no qual fizeram o lançamento do aplicativo.
Na quarta-feira, 16, será ouvido o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel. Eleito em 2018 com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, Witzel foi destituído do cargo por ter sido considerado culpado por crime de responsabilidade na gestão de contratos na área da Saúde durante a pandemia. Desafeto político de Bolsonaro, Witzel será questionado pela tropa de choque governista do Senado sobre a aplicação dos recursos federais. Na quinta-feira, 17, está previsto o depoimento do empresário Carlos Wizard, apontado como membro do gabinete paralelo – mesmo sem ter sido formalmente nomeado para um cargo, ele despachou por um mês no Ministério da Saúde. Wizard foi notificado de sua convocação, mas, segundo relatos feitos à Jovem Pan, não respondeu aos contatos dos parlamentares. Por isso, a cúpula da CPI da Covid-19 não descarta recorrer à condução coercitiva do depoente.
Diante do sumiço de Carlos Wizard, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), marcou o depoimento de Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), apontado como autor do relatório falso sobre mortes causadas pela Covid-19. O documento foi citado pelo presidente Jair Bolsonaro para questionar a eventual supernotificação de óbitos. O servidor foi afastado por 60 dias, por decisão da presidente do TCU, ministra Ana Arraes. Ela atendeu um pedido feito pelo corregedor do tribunal, Bruno Dantas, que também pediu a abertura de inquérito pela Polícia Federal para apurar o caso. Por fim, na sexta-feira, 18, serão ouvidos os médicos Ricardo Zimmermann e Francisco Eduardo Cardoso Alves, defensores do chamado “tratamento precoce”.
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