Governadores rebatem Bolsonaro: ‘Promoção do conflito não combate a pandemia’

Em meio ao agravamento da crise sanitária, presidente da República tem criticado adoção de medidas restritivas para conter avanço da Covid-19

  • Por André Siqueira
  • 01/03/2021 11h37 - Atualizado em 01/03/2021 11h56
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EFE/ Joédson Alves/Archivo Homem de cabelo grisalho trajando terno e gravata pretos falando em microfone diante de uma bandeira do Brasil Publicação sobre repasses a Estados foi feita durante o final de semana

Governadores de 18 Estados divulgaram, na manhã desta segunda-feira, 1º, uma carta rebatendo uma publicação feita pelo presidente Jair Bolsonaro durante o final de semana na qual ele detalha os valores que teria repassado às unidades federativas ao longo de 2020. Nos últimos dias, aliados do chefe do Executivo têm citado o montante destinado a Estados e municípios para responder a críticas sobre a gestão do governo federal no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. “Em meio a uma pandemia de proporção talvez inédita na história, agravada por uma contundente crise econômica e social, o Governo Federal parece priorizar a criação de confrontos, a construção de imagens maniqueístas e o enfraquecimento da cooperação federativa essencial aos interesses da população”, diz o documento, ao qual a Jovem Pan teve acesso. “A linha da má informação e da promoção do conflito entre os governantes em nada combaterá a pandemia, e muito menos permitirá um caminho de progresso para o país”, acrescentam.

A carta é assinada pelos governadores Renan Filho (Alagoas), Waldez Goés (Amapá), Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará), Renato Casagrande (Espírito Santo), Ronaldo Caiado (Goiás), Flávio Dino (Maranhão), Mauro Mendes (Mato Grosso), Helder Barbalho (Pará), João Azevêdo (Paraíba), Ratinho Júnior (Paraná), Paulo Câmara (Pernambuco), Wellington Dias (Piauí), Cláudio Castro (Rio de Janeiro), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), João Doria (São Paulo) e Belivaldo Chagas (Sergipe).

Os gestores estaduais explicam que os valores apresentados por Bolsonaro são repasses previstos na Constituição, como Fundo de Participação dos Estados e Municípios, Fundeb e royalties. “Adotando o padrão de comportamento do Presidente da República, caberia aos Estados esclarecer à população que o total dos impostos federais pagos pelos cidadãos e pelas empresas de todos Estados, em 2020, somou R$ 1,479 trilhão. Se os valores totais, conforme postado hoje, somam R$ 837,4 bilhões, pergunta-se: onde foram parar os outros R$ 642 bilhões que cidadãos de cada cidade e cada Estado brasileiro pagaram à União em 2020?”, questionam.

Em outro trecho da carta, os governadores reforçam a necessidade de adoção de medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19, iniciativa rechaçada por Bolsonaro. Na quinta-feira, 25, o presidente da República disse que o auxílio emergencial deveria ser pago à população por governantes que têm adotado a política do “fecha tudo e vai para casa”. “Aquela política do ‘fecha tudo e vai para casa’ é muito boa para quem tem um bom dinheiro guardado, mas para mais de 40 milhões de pessoas, obrigadas a ficar em casa, foi um desastre. Tem muita gente que quer que a gente continue com isso [o pagamento do auxílio emergencial] eternamente. Isso não é dinheiro que está no cofre, é endividamento. A população quer voltar a trabalhar. Infelizmente, um ou outro governador, um ou outro prefeito, ainda teimam em baixar decretos [com o fechamento de atividades não essenciais]. Quem quer auxílio emergencial e a cidade está fechada, vai cobrar do prefeito, do respectivo governador, já que eles querem que você fique em casa eternamente e querem mandar a conta para nós pagarmos. Isso aí não existe. Se essa política demorar muito, as consequências danosas chegam para todo mundo. Queremos a volta da normalidade”, afirmou em sua live semanal.

“A contenção de aglomerações – preservando ao máximo a atividade econômica, o respeito à ciência e a agilidade na vacinação – constituem o cardápio que deveria estar sendo praticado de forma coordenada pela União na medida em que promove a proteção à vida, o primeiro direito universal de cada ser humano. É nessa direção que nossos esforços e energia devem estar dedicados”, dizem os governadores.

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