Leia a íntegra da carta de demissão do ministro da Educação

Milton Ribeiro pediu exoneração do cargo nesta segunda-feira, 28, em razão das acusações de favorecimento de pastores na distribuição de recursos da pasta

  • Por André Siqueira
  • 28/03/2022 16h44 - Atualizado em 28/03/2022 16h58
ANTONIO MOLINA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Ministro Milton Ribeiro Milton Ribeiro é o quarto ministro da Educação do governo Bolsonaro

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, pediu exoneração do cargo, na tarde desta segunda-feira, 28 – a desoneração foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) por volta das 16h40. A Jovem Pan obteve a íntegra da carta escrita pelo então titular da pasta para justificar a sua saída. Ribeiro é acusado de favorecer pastores na distribuição de recursos da pasta. Reportagens publicadas nas últimas semanas apontam a existência de um “gabinete paralelo” para o favorecimento de prefeituras indicadas por pastores. Em um áudio divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo, o ministro diz que uma de suas prioridades é atender  às demandas de Gilmar Santos, um dos líderes da Assembleia de Deus. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar”, diz na gravação. Após a revelação da conversa, outras denúncias começaram a aparecer. Prefeitos relataram ter recebido pedidos de propina do pastor Arilton Moura para facilitar o repasse de verbas federais.

Na carta, Ribeiro diz que sua vida sofreu “uma grande transformação” no dia 21 de março. “A partir de notícias veiculadas na mídia foram levantadas suspeitas acerca da conduta de pessoas que possuíam proximidade com o Ministro da Educação. Tenho plena convicção que jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário. As suspeitas de que uma pessoa, próxima a mim, poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigadas com profundidade”, escreveu. Ribeiro diz que tomou a iniciativa de pedir exoneração “com o coração partido”. “Meu afastamento é única e exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política, que exige de mim um senso de país maior que quaisquer sentimentos pessoais”, acrescenta.

No documento, Milton Ribeiro diz que não irá se despedir e afirma que voltará ao governo depois de demonstrar sua inocência. “Não me despedirei, direi um até breve, pois depois de demonstrada minha inocência estarei de volta, para ajudar meu país e o Presidente Bolsonaro na sua difícil mas vitoriosa caminhada”, afirma. Como a Jovem Pan mostrou, parlamentares da bancada evangélica defendiam que Ribeiro se licenciasse enquanto durassem as investigações, mas questões jurídicas inviabilizaram esta solução. Além da pressão de líderes evangélicos, como o pastor Silas Malafaia, ministros palacianos e expoentes do Centrão, que dão sustentação ao governo no Congresso, avaliavam que a permanência do ministro no cargo poderia causar danos à campanha de Bolsonaro pela reeleição.

Leia abaixo a íntegra da carta:

Desde o dia 21 de março minha vida sofreu uma grande transformação. A partir de notícias veiculadas na mídia foram levantadas suspeitas acerca da conduta de pessoas que possuíam proximidade com o Ministro da Educação. Tenho plena convicção que jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário. As suspeitas de que uma pessoa, próxima a mim, poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigadas com profundidade.

Eu mesmo, quando tive conhecimento de denúncia acerca desta pessoa, em agosto de 2021. encaminhei expediente a CGU para que a Controladoria pudesse apurar a situação narrada em duas denúncias recebidas em meu gabinete. Mais recentemente, solicitei a CGU que audite as liberações de recursos de obras do FNDE, para que não haja duvida sobre a lisura dos processos conduzidos bem como da ausência de poder decisório do ministro neste tipo de atividade.

Tenho três pilares que me guiam: Minha honra, minha família e meu país. Além disso tenho todo respeito e gratidão ao Presidente Bolsonaro, que me deu a oportunidade de ser Ministro da Educação do Brasil. Assim sendo, e levando-se em consideração os aspectos já citados, decidi solicitar ao Presidente Bolsonaro a minha exoneração do cargo, com a finalidade de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e a do Governo Federal, que vem transformando este país por meio do compromisso firme da luta contra a corrupção.

Não quero deixar uma objeção sequer quanto ao meu comportamento, que sempre se baseou em pilares inquebrantáveis de honra, família e pátria. Meu afastamento do cargo de Ministro, a partir da minha exoneração, visa também deixar claro que quero, mais que ninguém, uma investigação completa e longe de qualquer dúvida acerca de tentativas deste Ministro de Estado de interferir nas investigações.

Tomo esta iniciativa com o coração partido, de um inocente que quer mostrar a todo o custo a verdade das coisas, porém que sabe que a verdade requer tempo. Sei de minha responsabilidade política, que muito se difere da jurídica. Meu afastamento é única e exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política, que exige de mim um senso de país maior que quaisquer sentimentos pessoais.

Assim sendo, não me despedirei, direi um até breve, pois depois de demonstrada minha inocência estarei de volta, para ajudar meu país e o Presidente Bolsonaro na sua difícil mas vitoriosa caminhada.

Brasil acima de tudo!!! Deus acima de todos!!!

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