Mendonça vê ‘desvio de conduta’ no combate à pandemia e nega que sessões no STF serão abertas com oração

Ex-ministro da Justiça elogiou o trabalho da CPI da Covid-19 e assegurou, mais uma vez, seu compromisso com a laicidade; ex-AGU foi escolhido por Bolsonaro por ser ‘terrivelmente evangélico’

  • Por Jovem Pan
  • 01/12/2021 12h19 - Atualizado em 01/12/2021 14h58
Edilson Rodrigues/Agência Senado André Mendonça durante a sabatina para o cargo de ministro do STF na CCJ do Senado Federal André Mendonça disse que não irá acatar sugestão de Jair Bolsonaro de iniciar as sessões no STF com uma oração

O ex-advogado-geral da União André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para o Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta quarta-feira, 1º, em sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal, que pode ter havido um “desvio de conduta” das autoridades durante o combate à pandemia da Covid-19. O indicado foi questionado pela relatora Eliziane Gama (Cidadania-MA) sobre a postura do poder público no enfrentamento ao coronavírus e sobre a atuação da CPI da Covid-19. Ao iniciar sua fala, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública se confundiu e disse lamentar as “60 mil mortes” pela doença. Logo Mendonça foi corrigido pelos senadores. “600 mil pessoas. Ali estão vida, sonhos, jovens, idosos, pais e mães que se foram antecipadamente”, apontou o sabatinado, que prestou suas condolências aos familiares dos senadores Arolde de Oliveira, José Maranhão e Major Olímpio, que morreram em decorrência da Covid-19. “Em boa hora vieram as vacinas, que são a causa fundamental de nós termos equacionado pelo menos a níveis não tão tristes de número de mortes ou não tão altos”, afirmou.

“E nesse contexto eu queria dizer que, em muitos momentos, eu podia observar que as autoridades foram aprendendo durante o processo. Logicamente que situações podem, e a CPI apurou isso, podem ter extrapolado o que é o erro da má gestão, às vezes do desvio de conduta, e eu entendo que o valoroso trabalho da CPI deve ser levado a sério por todas as instituições do sistema de Justiça”, elogiou o indicado, que defendeu uma resposta “responsável, correta e tempestiva” às denúncias feitas pela comissão. “Espero que dentro desse contexto possamos em breve, não só aquilo em análise na PGR ou no STF, dar essa resposta tempestiva, correta e séria”, acrescentou. “Hoje, como é público, o resultado da CPI já foi encaminhado inclusive ao Supremo Tribunal Federal e está se fazendo essa análise. E no mesmo sentido, sob pena de incorrer em impedimento até para o tratamento adequado dessa questão, eu fico impossibilitado de me manifestar sobre aspectos próprios da CPI”, respondeu à senadora Eliziane. Mendonça, no entanto, assegurou o seu compromisso de apuração e tratamento adequado do resultado dos trabalhos da comissão.

Em seguida, o ex-ministro comentou sobre a sugestão do presidente Bolsonaro de que as sessões do Supremo fossem iniciadas com uma oração. “Nunca pus no meu currículo profissional o fato de eu ser pastor. Até diante da fala do presidente de orações durante a sessão, até expliquei a ele: não há espaço para manifestação pública religiosa durante uma sessão”. Mendonça, que é graduado em Teologia e pastor ordenado, é o nome “terrivelmente evangélico” escolhido pelo chefe do Executivo para assumir a vaga do ministro Marco Aurélio Mello na Corte. Em seu pronunciamento inicial, no entanto, ele garantiu que respeitará o Estado laico. “Vou preservar minha liberdade, a minha manifestação individual e silenciosa, mas compreendendo a separação que deve haver entre a manifestação religiosa e a função pública”, finalizou.

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