Motoboy que sacou milhões, FIB Bank e secretário preso por fraude: a semana de trabalhos da CPI da Covid

Na 18ª semana de trabalho, comissão quer avançar na apuração sobre a atuação de uma empresa desconhecida até então: a VTCLog

  • Por André Siqueira
  • 29/08/2021 14h00
Edilson Rodrigues/Agência Senado Senadores analisam documento Cúpula da CPI quer encerrar os trabalhos até o final do mês de setembro

Na 18ª semana de trabalhos da CPI da Covid-19, uma nova personagem entrará em cena: a VTCLog, empresa de logística que tem contratos com o Ministério da Saúde. Para a cúpula da comissão, a companhia está “no centro dos escândalos de corrupção”, como disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente do colegiado. Segundo um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), em posse dos senadores, a empresa movimentou, de maneira atípica, R$ 117 milhões nos dois últimos anos. E um funcionário, em específico, chamou a atenção dos parlamentares: o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva sacou aproximadamente R$ 4,7 milhões na boca de caixas eletrônicos. Nos próximos dias, testemunhas ligadas ao caso Covaxin também serão ouvidas – nesta sexta-feira, 27, a União rescindiu o contrato de R$ 1,6 bilhão firmado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro com a Bharat Biotech.

O depoimento de Ivanildo Gonçalves estava inicialmente marcado para a quinta-feira, 2, mas foi antecipado para a terça-feira, 31. Autor do requerimento de convocação, Randolfe Rodrigues também pediu proteção policial para a testemunha, que, segundo o parlamentar, está sofrendo “pressões” da empresa. “O Relatório de Inteligência Financeira (RIF) do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta que a VTClog movimentou de forma suspeita R$ 117 milhões nos últimos dois anos. O nome de Ivanildo Gonçalves é citado várias vezes no documento. Ele chegou a sacar em diversos momentos o montante de R$ 4.743.693. A maioria foi saques em espécie e na boca do caixa”, diz um trecho do pedido. A relação de Ivanildo com a VTC Log foi revelada pelo Jornal de Brasília. Ao veículo, ele admitiu ter realizado as operações, destacou que depositou quantias a pessoas que não conhecia, mas não soube explicar por que precisou transportar grandes quantias em vez de ter optado por transferências bancárias.

Na quarta-feira, 1º, será a vez do advogado Marcos Tolentino, apontado como sócio oculto da FIB Bank, que atuou como fiadora da Precisa Medicamentos. A empresa emitiu uma carta-fiança no valor de R$ 80,7 milhões como garantia para o acordo firmado para a aquisição de 20 milhões de doses da vacina Covaxin. A oitiva também servirá para que a CPI esclareça os vínculos de Tolentino com o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). Os dois são amigos pessoais e o advogado, inclusive, acompanhou o parlamentar do Centrão em seu depoimento à comissão, que ocorreu no dia 12 de agosto. Na última quarta-feira, os senadores ouviram Roberto Pereira Ramos, que se apresentou como diretor-presidente da FIB Bank. Para os congressistas, porém, ele atua como “laranja” de Tolentino. “Nós já sabemos que o verdadeiro responsável pelo FIB Bank é o senhor dessa foto [exibida no telão da comissão], o Marcos Tolentino. Vossas contradições confirmaram as certezas que temos”, disse Randolfe.

Para a quinta-feira, 2, está previsto o depoimento de Francisco Araújo Filho, ex-secretário de Saúde do Distrito Federal que chegou a ser preso, em julho do ano passado, em razão da Operação Falso Negativo, que apura o superfaturamento de testes de Covid-19. A princípio, ele seria ouvido no dia 17 de agosto, mas a oitiva foi adiada porque Araújo obteve autorização judicial para viajar para a cidade de Manaus (AM) entre os dias 12 e 22 de agosto. Na terça-feira, 24, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu ao ex-secretário o direito de permanecer em silêncio em perguntas que possam incriminá-lo.

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