Na CPI da Covid-19, Osmar Terra admite erro em previsões e contraria recomendações científicas

Aos senadores, deputado federal afirmou que ‘não existe gabinete paralelo’ e questionou eficácia do isolamento social

  • Por Jovem Pan
  • 22/06/2021 18h43 - Atualizado em 22/06/2021 21h16
Edilson Rodrigues/Agência Senado Deputado de máscara e óculos no plenário da CPI da Covid-19 A pedido do presidente da Câmara dos Deputados, Osmar Terra foi ouvido na condição de convidado

Em seu depoimento à CPI da Covid-19, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) admitiu, nesta terça-feira, 22, que errou nas previsões feitas no início da pandemia e apresentou recomendações que contrariam as recomendações científicas. A oitiva, que durou mais de sete horas, também foi marcada por questionamentos sobre a imunidade de rebanho e a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde. Apontado como mentor de um grupo de aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro, o emedebista afirmou que “não tem poder” sobre o chefe do Executivo federal.

A convocação de Osmar Terra foi aprovada após a divulgação de um vídeo no qual o virologista Paolo Zanotto sugere, em evento no Palácio do Planalto, a criação de um “shadow cabinet” (gabinete das sombras, em tradução livre). Aos senadores, o deputado federal afirmou que “não existe gabinete paralelo. É ficção”. “Todos os presidentes se aconselham com alguém”, acrescentou. Apesar da versão apresentada pelo ex-ministro da Cidadania do governo federal, a cúpula da CPI da Covid-19 diz ter evidências de que havia, sim, uma estrutura informal que influenciava Bolsonaro na adoção de políticas públicas de enfrentamento à crise sanitária.

O deputado federal também se notabilizou por fazer previsões equivocadas sobre a pandemia do novo coronavírus. No início da crise sanitária, ele afirmou que a Covid-19 mataria menos do que o H1N1, que em 2009 foi responsável por 2.146 óbitos. No sábado, 19, o Brasil ultrapassou a marca de 500 mil mortes. Nesta terça-feira, Osmar Terra disse que fez as estimativas com base nos fatos que tinha à disposição no início da pandemia. Ao longo do ano, no entanto, o parlamentar declarou, em mais de uma ocasião, que a crise sanitária caminhava para o fim. Na audiência de hoje, os membros da comissão exibiram vídeos nos quais o ex-ministro descarta a possibilidade de mutação do coronavírus e a ocorrência da segunda onda, que atingiu o país no primeiro trimestre de 2021.

Terra também deu declarações que contrariam as recomendações científicas. Respondendo a questionamentos feitos pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente da comissão, o deputado federal afirmou que o isolamento social “não reduz” a circulação do vírus. “Não reduz, porque quem sai para trabalhar contamina os que não trabalham [e ficam em casa]”, disse. Vieira, então, respondeu iria encaminhar ao emedebista estudos publicados nas revistas científicas Science, Nature e The Lancet, que comprovam o equívoco. “É para que o senhor possa, eventualmente, mudar de ideia”, acrescentou.

A postura de Osmar Terra e de senadores governistas irritou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM). No meio da tarde, Marcos Rogério (DEM-RO), vice-líder do governo no Congresso Nacional, exibiu um vídeo no qual Drauzio Varella afirma, em janeiro de 2020, que, à época, o coronavírus não deveria causar pânico – o médico mudou de opinião em maio do mesmo ano. “Olha, eu conheço o doutor Drauzio pela televisão. Nunca falei com ele, mas, que eu saiba, ele mudou de opinião. O burro chucro não, ele fica empacado, está me entendendo? Sabe o que é o burro chucro? Sabe, né? Aquele cara que empaca em uma ideia e não se mexe”, reagiu Aziz.

Supremo Tribunal Federal 

Osmar Terra também recorreu ao argumento utilizado por Bolsonaro, segundo o qual o Supremo Tribunal Federal (STF) retirou a autonomia do governo federal para conduzir o enfrentamento à pandemia. O deputado federal afirmou que o presidente da República “não pode fazer nada”. Em abril de 2020, a Corte reconheceu a autonomia concorrente da União e de Estados e municípios para a adoção de medidas restritivas. “Não tem mentira maior que dizer que o STF tirou o poder do presidente. Essa é a maior mentira que existe”, disse o presidente da CPI da Covid-19, Omar Aziz (PSD-AM). Para o senador do PSD, o governo federal utiliza a pandemia como “justificativa para dizer que prefeitos e governadores são culpados” pela crise sanitária.

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