Número inflado de vacinas, cloroquina e ‘juízo de valor’: o depoimento de Queiroga à CPI da Covid
Ministro da Saúde também disse concordar com a autonomia de Estados e municípios para decretar medidas restritivas de redução de circulação
Em depoimento à CPI da Covid-19 nesta quinta-feira, 6, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu que o governo do presidente Jair Bolsonaro anunciou um número superestimado de vacinas contra o novo coronavírus já contratadas. Em peças de propaganda, a pasta dizia ter comprado mais de 560 milhões de doses, mas em resposta a um questionamento oficial feito pelo deputado federal Gustavo Fruet (PDT-PR), o ministério informou que só há acordo firmado para a aquisição de metade disso: 280 milhões. Aos senadores da comissão, porém, o médico cardiologista apresentou novos números, e disse que há 430 milhões de imunizantes contratados, quantidade que não inclui as vacinas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A oitiva de Marcelo Queiroga, iniciada por volta das 10h, também foi marcada por questionamentos sobre a cloroquina, medicamento sem comprovação científica no tratamento da Covid-19, mas recomendado pelo presidente Jair Bolsonaro desde o início da pandemia. Além disso, o ministro da Saúde evitou responder diretamente sobre outros temas, como declarações do chefe do Executivo federal e ações de gestões anteriores. Quando questionado sobre a recusa do governo em assinar contrato com a Pfizer em agosto do ano passado, Queiroga disse que não poderia falar sobre tratativas que ocorreram antes de sua posse. “Assumi há 45 dias e esses acordos não foram firmados na minha gestão. Não tenho como precisar se houve demora, porque não participei dessas negociações”, disse.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL) e o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), questionaram, em mais de uma ocasião, se o ministro concordava com o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro em defesa da cloroquina. Irritado com as respostas evasivas, Aziz subiu o tom contra Queiroga. “O senhor não entendeu sua posição aqui”, disse. “O senhor é testemunha, tem que dizer sim ou não. Senão vamos encerrar a sessão agora, nem vamos continuar”, acrescentou o presidente do colegiado. Calheiros insistiu. “O senhor compartilha da opinião do presidente sobre o uso da cloroquina?”, questionou. “Eu não faço juízo de valor a respeito da opinião do presidente da República”, rebateu o comandante da Saúde.
Autonomia de Estados e municípios
Outro destaque do depoimento de Queiroga foi a defesa da autonomia de Estados e municípios para decretar medidas restritivas de combate ao novo coronavírus. “Pelo o que entendo, o senhor acha que Estados e municípios devem ter o direito de fazer essa política de distanciamento social ou de lockdown, se for o caso, conforme as características e o momento epidemiológico de cada um desses Estados e municípios”, disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), um dos 11 titulares da CPI. “É claro que concordo”, respondeu o ministro. O presidente Jair Bolsonaro é um crítico contumaz das políticas de isolamento social. Nesta quarta-feira, 5, afirmou, em evento no Palácio do Planalto, que cogitava editar um decreto para “garantir o direito de ir e vir da população”.
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