Ordem dos depoimentos divide maioria dos integrantes da CPI da Covid-19

Há impasse entre reconstituir os fatos a partir das oitivas de Mandetta e Teich e ‘fazer manutenção com o carro andando’, em alusão ao legado de Pazuello e atual gestão de Queiroga

  • Por André Siqueira
  • 23/04/2021 16h36 - Atualizado em 23/04/2021 16h44
MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO - 01/02/2021 Plenário do Senado Federal Primeira reunião da CPI ocorrerá na terça-feira, 27

Na terça-feira, 27, o Senado fará a primeira reunião da CPI da Covid-19, que será instalada com o objetivo principal de apurar as ações e omissões do governo do presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia do novo coronavírus. O primeiro passo será a eleição da cúpula do colegiado – um acordo costurado pela maioria dos integrantes prevê as indicações de Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL) para a presidência, vice-presidência e relatoria, respectivamente – mas os parlamentares já discutem qual será o plano de trabalho e a ordem dos eventuais depoimentos divide o grupo formado por senadores oposicionistas e independentes.

Segundo apurou a Jovem Pan com os integrantes da CPI, há um impasse sobre quem deve ser chamado prioritariamente. Uma ala defende que a comissão faça uma espécie de retrospectiva dos fatos. Neste caso, seriam ouvidos os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, por exemplo, que deixaram o governo ainda no primeiro semestre de 2020, durante a primeira onda da doença. A ideia é apurar se, à época, Bolsonaro boicotou medidas sanitárias defendidas pelos comandantes da Saúde. Por outro lado, há quem defenda que o colegiado comece por quem atualmente ocupa cargos, não apenas no governo federal, mas em órgãos como o Conselho dos Secretários Estaduais de Saúde (Conass), para que se possa constatar qual é o legado da gestão de Eduardo Pazuello, exonerado em 18 de março deste ano, o que tem sido feito no pior momento da pandemia e quais as alternativas viáveis para evitar um cenário ainda pior. “É mais complicado fazer manutenção com o carro andando, mas nesse caso é fundamental”, avalia um dos titulares da comissão.

O senador Humberto Costa (PT-PE) é um dos defensores da ideia de iniciar os trabalhos ouvindo os “gestores atuais”, a começar pelo atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. “Eu vou defender uma posição: deveríamos começar com os gestores atuais. A pandemia continua, a situação não tem saída à vista. Fala-se, inclusive, que, por conta do aprofundamento da situação grave na Índia, teríamos uma redução na disponibilidade de vacina no mundo – isso coloca o horizonte de atender os mais vulneráveis ainda mais para frente. Além disso, algumas coisas não estão claras. O que está faltando para que haja a liberação da vacina russa, a Sputnik V? Falta uma visita à fabrica? Por que ela não foi feita? A Anvisa precisa explicar. O Brasil comprou 47 milhões [de doses] dessa vacina, uma parte com entrega imediata. Por que isso não aconteceu? Queremos ouvir a Anvisa. O Ministério das Relações Exteriores precisa dizer o que está sendo feito para a aquisição de mais vacinas, dos kits de intubação. Esse governo só trabalha sob pressão, por isso temos que cobrar soluções imediatas. Depois disso, paralelamente, vamos ouvir testemunhas, investigados, mas não sem ouvir a comunidade científica, acadêmica, para que externe sua leitura sobre a crise”, disse em entrevista à Jovem Pan.

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