Para justificar sigilo, Exército diz que caso de Pazuello ‘não tem interesse público’

Em manifestação enviada a Cármen Lúcia, Comando da Força afirma que sigilo centenário é ‘proporcional e adequado’ para preservar informações; ação foi apresentada por quatro partidos de oposição

  • Por André Siqueira
  • 28/06/2021 16h31 - Atualizado em 28/06/2021 17h12
LEKA WESOL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO Ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em carro de som no Rio de Janeiro ao lado do presidente Jair Bolsonaro Regimento interno do Exército proíbe participação de militares da ativa em manifestações políticas

Em manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), o Comando do Exército defendeu o sigilo de 100 anos imposto sobre o processo administrativo disciplinar envolvendo a participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello em uma manifestação política de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, no dia 23 de maio. No documento, de 12 páginas, a Força afirma que trata-se de um “assunto interno”, pontua que não há “interesse público” e pede que a ministra Cármen Lúcia rejeite a ação, apresentada pelos partidos PT, PSOL, PCdoB e PDT, que defende a publicidade do material. O regimento interno da caserna proíbe que militares da ativa participem de atos desta natureza, mas, mesmo assim, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante da instituição, arquivou o caso.

“Não existe absolutamente interesse público patente a motivar acesso às informações extraídas de referido processo administrativo disciplinar, o qual regulam unicamente uma relação personalíssima entre um militar e seu comandante, em que se analisa se o subordinado transgrediu ou não uma norma castrense”, diz um trecho do documento. O Exército também alega que não classificou o processo como sigiloso, mas apenas seguiu o que preveem a Constituição e a Lei de Acesso à Informação a respeito de informações pessoais. “Não foi o administrador militar quem impôs a restrição de acesso ao documento, mas sim a lei”, acrescenta o coronel Marcelo Silva Rodrigues, chefe da assessoria para Assuntos Jurídicos do Gabinete do Comandante do Exército.

Os quatro partidos políticos apresentaram uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) após o Exército impor um sigilo centenário ao caso de Pazuello. Na ADPF, as siglas afirmam que a decisão representa uma “grave afronta” à democracia, à liberdade de informação e à moralidade administrativa. Ao Supremo, o Comando do Exército diz que o pedido da oposição tem “motivação política” e argumenta que o período de 100 anos é “proporcional e adequado” para preservar informações pessoais. “O fundamento de um prazo tão dilatado para disponibilização de informações pessoais – cem anos – é que dificilmente a divulgação de informações constantes de arquivos, cadastros, banco de dados ou registros administrativos provocará dando à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem de determinada pessoa depois de passado um século”, diz o parecer.

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