PL abre as portas a bolsonaristas e aposta em cacique único para vencer o PP e fechar filiação de Bolsonaro

Valdemar Costa Neto, mandachuva dos liberais, divulgou vídeo convidando o presidente da República, também disputado pelo Progressistas de Ciro Nogueira e Arthur Lira; legendas esperam resposta nos próximos dias

  • Por André Siqueira
  • 30/10/2021 08h00
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/José Cruz/ABr Montagem com foto de dois homens de terno Valdemar Costa Neto também se reuniu com parlamentares para discutir possível filiação de Bolsonaro ao PL

Há cerca de um mês, a filiação do presidente Jair Bolsonaro era dada como certa pela cúpula do Progressistas (PP). Nesta semana, porém, um movimento arrojado do presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, embaralhou as cartas do jogo político. Em um intervalo de 15 dias, o cacique da legenda se reuniu com alguns parlamentares em pelo menos duas ocasiões (um jantar e um churrasco), conversou diretamente com o chefe do Executivo federal e divulgou um vídeo no qual convida Bolsonaro, “seus filhos e fiéis seguidores da causa brasileira sob sua liderança”. Em entrevista à Jovem Pan, o mandatário do país admitiu que está entre PP e PL, e pessoas próximas ouvidas pela reportagem apostam que o martelo será batido nos próximos dias.

No dia 20 de outubro, parte da cúpula do PL tratou sobre a filiação de Bolsonaro em um jantar na casa do senador Wellington Fagundes (PL-MT), do qual participaram Valdemar Costa Neto, a ministra da Secretaria do Governo, Flávia Arruda, deputada eleita pelo partido no DF, os senadores Jorginho Mello (SC) e Carlos Portinho (RJ), o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (AM), e a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), integrante da tropa de choque bolsonarista no Legislativo. No encontro, Costa Neto ressaltou o interesse em criar as condições necessárias para que a legenda abrigue Bolsonaro e os parlamentares aliados que estão em outras agremiações, como é o caso do PSL, onde cerca de 20 deputados federais aguardam a escolha do presidente da República para que definam o seu futuro político. “Conversamos sobre a possibilidade de eu me filiar ao PL, foi um primeiro papo. No jantar, falaram que estavam conversando com o presidente, me perguntaram se eu poderia ajudar. Acho que é interessante ter várias opções, isso eu acho bacana. Costumam dizer que ninguém quer o Bolsonaro, mas partidos estruturados estão disputando a filiação”, disse Kicis à Jovem Pan. “Ele [Bolsonaro] quer ter conforto para escolher a sua bancada para o Senado. Não sei como está essa conversa com o PP, mas o Valdemar deixou claro que a ideia é atender ao que o presidente quer”, segue a deputada.

A disputa entre PP e PL é vista como uma final de campeonato por integrantes dos dois partidos. Embora tenham ciência de que apenas um poderá contar com a figura de Bolsonaro, os dirigentes partidários descartam – ao menos por ora – uma ruptura com o governo. Um importante quadro do Progressistas disse à Jovem Pan que o núcleo duro do Centrão, formado, além das duas legendas, pelo Republicanos, trabalha para que o candidato a vice na chapa de 2022 seja de uma destas três siglas. A ideia de uma união através da federação partidária, aprovada pelo Congresso, também é aventada, mas a composição esbarra em alianças feitas no âmbito municipal.

Quem acompanha as tratativas afirma que o processo tem sido marcado por uma série de reviravoltas. A filiação ao PP era dada como 90% certa pelo deputado federal André Fufuca (PP-AM), que assumiu a presidência nacional do partido após a ida do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil. O PL contra-atacou e, após a divulgação do vídeo de Valdemar Costa Neto, quem conversou com o presidente Jair Bolsonaro diz ter ouvido que havia “grande chance” do casamento ser selado. “Conversei com Bolsonaro por WhatsApp, falei do clima dentro do PL, e ele me disse que estava muito bem encaminhado”, conta Bia Kicis. Os caciques do Progressistas, então, fizeram nova ofensiva. Na segunda-feira, 25, horas depois da divulgação do vídeo de Costa Neto, Nogueira e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acompanhados do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), foram ao Palácio do Planalto. Na reunião fora da agenda, reforçaram o convite. “Bolsonaro recuou, ficou balançado e tudo está em compasso de espera”, diz um interlocutor de um dos presentes.

Aliados de Valdemar Costa Neto afirmam que o PL tem uma vantagem em relação ao PP: no Partido Liberal, o poder é concentrado na mão do cacique, preso no escândalo do Mensalão. No Progressistas, em contrapartida, há diversas lideranças, como Nogueira, Lira e o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). Além disso, o PP tem forte ligação com partidos de esquerda na região Nordeste. Na Bahia, por exemplo, o vice-governador do Estado, João Leão, compõe a chapa do petista Rui Costa. No Maranhão, o presidente interino, André Fufuca, apoia a candidatura do senador Weverton (PDT) ao governo do Estado. O PDT é o partido de Ciro Gomes.

“O PL é o terceiro maior partido da Câmara, atrás somente do PT e do PSL, o que traz tempo de rádio e TV, fundamental em uma campanha que vai ser acirrada. Não temos turbulências internas, não há rupturas. Só há um líder, o Valdemar. Temos a estabilidade que Bolsonaro precisa. É o casamento perfeito”, disse à Jovem Pan o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), amigo pessoal do presidente da República há mais de 10 anos. A legenda, inclusive, já traça um panorama para as eleições de 2022. Atualmente com 43 deputados eleitos, o PL acredita que, com a vinda de Bolsonaro, ultrapassará a casa dos 70 parlamentares na Casa. Quem trabalha para garantir a ida de Bolsonaro ao Partido Liberal diz que o Progressistas já apoia o governo e que o suporte de duas siglas seria importante para 2022 e para um eventual novo mandato – juntos, liberais e pepistas somam 85 deputados.

Uma das poucas vozes dissonantes no PL, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos, já disse à cúpula do partido que não apoiará Bolsonaro. O parlamentar do Amazonas declarou sua oposição ao Palácio do Planalto em julho deste ano, após o episódio no qual o presidente da República acusou Ramos de ter “atropelado o regimento” da Casa e impedido a votação de um destaque do partido Novo que vetaria o chamado Fundão – o que não é verdade. À reportagem, Ramos disse que não fará nenhum “movimento brusco e açodado” porque, desde que deixou o PSL, em novembro de 2019, Bolsonaro já ensaiou uma filiação em vários momentos, mas não selou seu destino político. O vice da Câmara, porém, deixa clara a sua opinião: “Os partidos que negociam com Bolsonaro sabem que esse apoio só vale a pena se o presidente da República estiver filiado. Estando na sigla, ele ajuda a fazer bancada e ajuda com voto em legenda. Apoiá-lo sem que ele esteja filiado é um desastre, porque Bolsonaro só leva o resultado de um governo de 14,8 milhões de desempregados, da inflação de dois dígitos e dos 600 mil mortes da pandemia”, disparou o deputado. “Se Bolsonaro não derreter completamente daqui para a frente, o que considero uma hipótese, e chegar como candidato viável, há interesse do ponto de vista eleitoral porque ele ajuda o PL a fazer 50, 60 deputados”, estima.

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