Presidente do PSDB na cidade de SP diz acreditar em 3ª via: ‘Brasil nunca tentou um governo de centro’
Em entrevista à Jovem Pan, Fernando Alfredo afirmou que um pedido de impeachment está sendo preparado e deve ser protocolado no Congresso nos próximos dias
Manifestantes do PSDB se uniram a outros partidos no último sábado, 3, na Avenida Paulista, em um protesto contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. Nas redes sociais, o presidente do diretório municipal do partido em São Paulo, Fernando Alfredo, disse preferir “ir para a rua apanhar do que ficar do gabinete emitindo nota em Twitter.” Em entrevista à Jovem Pan, ele afirmou que um pedido de impeachment está sendo preparado pelo diretório municipal e deve ser protocolado no Congresso nos próximos dias. Alfredo também falou sobre o posicionamento do PSDB – que apoiou Bolsonaro em 2018 –, as eleições de 2022 e os planos de concorrer a uma vaga no Senado. Confira a entrevista:
Vimos a presença do PSDB na última manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro, em São Paulo, pela primeira vez. O que fez com que o diretório municipal tomasse essa decisão? O secretariado do partido já havia participado das outras duas manifestações, o núcleo inter-religioso e a Diversidade Tucana. Eles convenceram da importância do PSDB se posicionar naquele momento. Eu reuni a executiva municipal e o diretório, fechamos a participação nas manifestações e, a partir daí, começamos a mobilizar o pessoal para ir.
As denúncias recentes de corrupção contra o governo contribuíram para esse posicionamento? As denúncias só vieram engrossar o caldo. O PSDB já estava batendo e dizendo que era oposição ao Bolsonaro há muito tempo aqui em São Paulo, desde o segundo mês de governo. A cada dia que passa, a cada enxadada que dá sai minhoca. O nosso posicionamento não foi só em relação às manifestações. A gente já vem se posicionando há muito tempo, mas agora nós fomos para a rua.
Um vídeo que circulou nas redes sociais mostrava uma confusão entre manifestantes do PCO e do PSDB no ato. Porque o senhor acha que isso ocorreu? Na verdade a briga não envolveu manifestantes do PSDB. Começou uma briga entre o próprio pessoal do PCO. Um rapaz começou a agredir uma senhora do próprio PCO, o pessoal da diversidade tucana e um outro grupo da juventude foram separar pelo fato do cara estar agredindo uma mulher. E aí começou o empurra empurra. Não teve ninguém ferido do nosso lado, e grande parte dos tucanos já estava na Consolação. Mas teve esse empurra empurra com o nosso pessoal que tentou separar a confusão. Aí o PCO aproveitou disso para querer aparecer. É um partido que não tem mídia nenhuma, não tem expressão, nenhum tipo de representatividade no âmbito nacional e municipal. A gente classificou como um ato muito isolado e deu só mais força para participar dos outros.
Nas redes sociais, o senhor inclusive criticou o posicionamento da direção nacional do PSDB em relação ao episódio e disse que não pode ser considerado como intolerância de toda a esquerda. Totalmente. Como eles classificam os atos pelo que os outros falam? Eu estava lá. Eu liguei para o Bruno Araújo [presidente nacional do PSDB], falei ‘cuidado com o que vocês postam porque não reflete a realidade do que aconteceu lá’.
O senhor acredita em uma união com os partidos de esquerda como oposição ao governo nesse momento? Eu acredito em uma união com todos os partidos de esquerda, de centro e de direita que queiram o fora Bolsonaro. Nós não estamos discutindo eleição nem ideologia partidária, nós estamos discutindo a vida e a democracia que estão ameaçadas nesse momento no país. Então eu não estou indo na manifestação discutir a social democracia que meu partido defende, não estou indo discutir sobre socialismo e comunismo. Eu estou lá a favor da vida e da democracia, foi por isso que o PSDB se posicionou. Não estou em um embate político e eleitoral pensando em 2022, eu estou pensando nas pessoas que estão morrendo hoje. A nossa democracia está ameaçada.
Em 2018 o PSDB apoiou o presidente Jair Bolsonaro. O governador João Doria chegou, inclusive, a fazer uma campanha usando o nome dele. O que mudou? Durante a eleição, o governador João Doria, por uma estratégia eleitoral, e por acreditar que naquele momento o Bolsonaro era melhor que o Haddad, apoiou. No segundo mês de governo, quando o Doria percebeu que esse governo não tinha rumo, prontamente ele foi e disse ‘esse governo não me representa’. Ele [Bolsonaro] foi eleito com uma pauta de prioridades e já mostrou no segundo mês que é tão errado quanto o governo do PT.
Apesar de o PSDB ter se posicionado contra o governo, o partido não chegou a apoiar oficialmente um pedido de impeachment. Isso pode mudar? Nós aqui em São Paulo já estamos com um grupo de juristas elaborando um pedido de impeachment que nós devemos protocolar nos próximos dias em Brasília. O PSDB municipal vai apresentar um pedido de impeachment.
E quais são as bases que o PSDB vai usar para esse pedido de impeachment? A gestão durante a pandemia, a corrupção, a esposa dele recebendo cheques do Queiroz. Tem inúmeros fatores que esse grupo está trabalhando. E cada dia que passa tem um fato novo.
Outros diretórios vão assinar? Eu não sei se o Marcos Vinholi [presidente do diretório estadual do PSDB de SP] e o Bruno Araújo vão assinar. Esse pedido vai assinado por todos os dirigentes do partido aqui na cidade de São Paulo.
O PSDB aprovou o modelo de prévias para 2022 recentemente. O que o senhor acha da possível candidatura do governador João Doria à Presidência? O governador João Doria se preparou. É o governador de Estado mais importante da nação e vai fazer agora um processo de dialogar com o restante do partido no país para disputar prévia. Prévia é um instrumento democrático que o PSDB tem desde 2012. Eu mesmo devo disputar as prévias pela vaga do Senado aqui em São Paulo. A nível nacional nós temos o governador João Doria, que é o meu candidato, o governador Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati e o Arthur Virgílio, que vão dialogar com a militância nesse período para ver quem tem a melhor proposta e quem representará o PSDB nas eleições de 2022.
E como o senhor vê o cenário para as eleições de 2022? Acredita em uma terceira via? Eu acredito. A cada dia que passa, com os números que nós temos acompanhado, se consolida essa terceira via. Na última pesquisa o governador João Doria já empatou com o Ciro Gomes com 6 pontos. Com uma diferença, o Ciro é um cara que já está há muito tempo na vida pública, o Doria tem sua carreira mais curta num cargo eletivo. Eu acredito veementemente numa terceira via até porque o Brasil já testou os dois extremos. O Brasil já testou um governo de extrema-esquerda, já testou um governo de extrema-direita — que nós estamos vivendo nesse momento — e nunca tentou um governo de centro, de diálogo. Nunca se fez tão necessária a social democracia em um momento como esse. As pessoas serem capazes de ouvir os extremos e transformar em políticas públicas capazes de encurtar as distâncias sociais que o Brasil vive hoje.
O senhor comentou que pretende concorrer ao Senado. Quais os planos até o momento? Eu me coloquei à disposição do partido. Começo a rodar o Estado de São Paulo nos próximos dias com a proposta de ter um militante senador. Alguém que representa as bases do partido e que ouça os anseios da militância no Congresso Nacional. Entendo e respeito a história do senador José Serra, mas acho que o momento é de ter alguém que tenha mais vigor na atividade no Senado. Defendo o Serra pela história que ele tem, ele pode ser um ótimo deputado federal, é o nosso melhor nome para ser o presidente do Congresso em um governo tucano.
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