PTB acena ao bolsonarismo com promessa de lealdade e ‘carta branca’ para escolha de cargos eletivos

Legenda sonha com filiação do presidente Jair Bolsonaro, mas mantém portas abertas para receber parlamentares alinhados ao governo

  • Por André Siqueira
  • 10/10/2021 14h00
Reprodução/PTB Dois homens de terno posam para foto ao lado de uma mulher Presidente Jair Bolsonaro se reuniu com a cúpula do PTB no Palácio do Planalto

Na penúltima semana de setembro, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) se reuniu com o empresário Otávio Fakhoury, presidente do diretório estadual do PTB em São Paulo, para tratar da possível filiação do presidente Jair Bolsonaro. Encarregado de negociar com dirigentes partidários o destino do mandatário do país, que está sem legenda desde que deixou o PSL em novembro de 2019, o filho Zero Um saiu do encontro com uma sinalização positiva: a sigla presidida por Roberto Jefferson concordou em dar a Bolsonaro a prerrogativa de escolher os 27 senadores que disputarão a eleição no ano que vem. Os petebistas sabem que o chefe do Executivo federal tem sido cortejado por caciques e lideranças de outros partidos, como é o caso do Progressistas (PP), por exemplo. Mesmo assim, acenam ao bolsonarismo com a mudança estatutária e a promessa de apoio incondicional.

A ofensiva do PTB ocorre há algum tempo. Antes da prisão de Roberto Jefferson, o ex-parlamentar e a vice-presidente nacional do partido, Graciela Nienov, se reuniram com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. “Foram feitos convites várias vezes. Mas não há negociação. Negociação é um estágio posterior. No encontro em Brasília, falamos de projetos: mostramos ao presidente que nosso estatuto está alinhado a tudo o que ele representa e fizemos questão de dizer que o PTB está 100% unido em prol dele, estaríamos com ele. A vinda dele, digamos, seria um casamento perfeito”, disse Nienov à Jovem Pan. Na última quarta-feira, Graciela reuniu a cúpula da legenda para repassar aos correligionários o teor da conversa. Nesta reunião, fecharam questão sobre um documento a ser enviado por Bolsonaro, em uma sinalização de união. Nesta sexta-feira, 8, o namoro ganhou um novo capítulo: a sigla emitiu uma nota, na qual afirma que “os membros da Executiva Nacional do PTB e os Presidentes Estaduais do PTB decidiram sinalizar ao Presidente da República que o partido é a verdadeira Casa do Conservador Brasileiro, e está projetado para receber como membros os seus descendentes, em especial aqueles que retornam à antiga morada”.

Como a Jovem Pan mostrou, as negociações para a filiação de Bolsonaro ao Progressistas, sigla comandada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e pelo líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), avançaram nas últimas semanas. Uma ala do partido, inclusive, já dá como certa a vinda do chefe do Executivo federal. Apesar disso, o PTB mantém o otimismo. “No caso do PP, há Estados em que eles estão coligados com partidos que não dialogam com o Bolsonaro. Como o presidente vai lançar candidato lá?”, disse Fakhoury à reportagem. Na Bahia, por exemplo, o governador Rui Costa (PT) tem como vice o ex-deputado federal João Leão (PP), pai do deputado Cacá Leão, líder dos pepistas na Câmara. “Por isso lançamos a proposta de que aqui ele [Bolsonaro] poderá escolher os candidatos. Na Bahia, ele pode querer lançar o ministro João Roma. No Rio Grande do Norte, o ministro Rogério Marinho. Em Pernambuco, o Gilson Machado, do Turismo. Todos esses nomes seriam aceitos e bem-vindos no PTB. E temos o atrativo do estatuto, com diretrizes claras sobre pautas de governo que Bolsonaro sempre defendeu. Temos como exigir a aderência a esses temas”, segue o presidente do diretório paulista.

A legenda de Roberto Jefferson também oferece ao presidente da República o poder de indicar um integrante da comissão que trata sobre a distribuição dos recursos do Fundão, uma atribuição da Executiva Nacional. Mesmo que o presidente da República sele seu casamento com o PP, o PTB seguirá fiel ao bolsonarismo. A legenda, inclusive, espera receber deputados que apoiam Bolsonaro e que estão em outras siglas, como os cerca de 20 parlamentares do PSL que seguirão outro caminho após a fusão com o DEM. “Estamos animados com a possibilidade de filiação, mas o apoio é incondicional. Nosso posicionamento não mudará”, sentencia Fakhoury.

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