Renan Calheiros critica ‘kit obstrução’ de aliados do governo: ‘Sociedade quer essa CPI’

Relator da comissão também desaprovou requerimentos, apresentados por senadores governistas, que foram elaborados por uma servidora ligada ao Palácio do Planalto

  • Por Jovem Pan
  • 29/04/2021 10h43 - Atualizado em 29/04/2021 16h00
Senado Fotos/Reprodução Senador discursa na tribuna do Senado CPI da Covid vota plano de trabalho na sessão desta quinta-feira, 29

No início da sessão da CPI da Covid-19 desta quinta-feira, 29, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) subiu o tom contra aliados do Palácio do Planalto que integram o colegiado. Um dos vice-líderes do governo do presidente Jair Bolsonaro no Congresso, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) apresentou questão de ordem para que as oitivas de depoentes ocorram de forma presencial. O emedebista reagiu imediatamente, afirmou que a comissão estava diante de “uma evidente obstrução” e destacou que “a sociedade quer essa CPI”.

“Essa comissão era para ter sido instalada em fevereiro. Os senhores não quiseram. Nem o governo. Tivemos que conquistar a instalação no Supremo Tribunal Federal. Até para começar nossos trabalhos, hoje chegaremos a 400 mil mortes. Antes de qualquer coisa, temos que saber o que podemos fazer, o que essa CPI pode fazer, para que a gente atrase esse calendário. Isso é de uma falta de sensibilidade. Querer discutir como será um depoimento que só acontecerá na terça-feira, fazendo com que nós percamos tempo dessa forma? Isso não vai dar bem”, disse Calheiros. Como a Jovem Pan mostrou, a cúpula da comissão definiu, na noite desta quarta-feira, 28, um cronograma inicial de depoimentos. Na terça-feira, 4, devem ser ouvidos os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Um dos principais alvos da CPI, o ex-ministro Eduardo Pazuello, que ficou mais tempo à frente do Ministério da Saúde, será ouvido na quarta-feira, 5. O atual comandante da pasta, Marcelo Queiroga, e o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, serão convocados para prestar esclarecimentos na quinta-feira, 6.

Desde a terça-feira, 27, quando a CPI foi instalada, foram protocolados mais de 250 requerimentos de convocações e informações. Alguns deles, apresentados por senadores governistas, foram elaborados pelo Palácio do Planalto – a informação foi relevado pelo jornal O Globo e confirmada pela Jovem Pan. A assessora especial da Secretaria de Assuntos Parlamentares da Presidência, Thaís Amaral Moura, é indicada como autora de requerimentos feitos pelos senadores Ciro Nogueira (Progressistas-PI) e Jorginho Mello (PL-SC). É possível encontrar o nome da servidora ao acessar as propriedades dos arquivos das solicitações dos parlamentares. A pasta é ligada à Secretaria de Governo, comandada pela ministra Flávia Arruda.

“Já conheci, estou há muitos anos no Congresso, muitas tropas de choque. Mas essa é a primeira que recorre ao STF, em uma questão já decidida, e é a primeira que recebe, por meio eletrônico, requerimentos feitos pelo governo. Nós não vamos chegar a lugar nenhum. Isso nunca deu certo em lugar nenhum. Nós vamos nos respeitar, mas deixa a comissão trabalhar, cumprir o seu papel. Não temos como continuar dessa forma: atrasando, atrasando. A sociedade quer essa CPI. O próprio governo, que os senhores representam, apresentou 23 questões, colocou 23 itens obrigatórios. Temos um roteiro já estabelecido, inclusive, pelo governo. Em um telefonema ao senado Kajuru, o presidente disse, em alto e bom som, em português claro, que precisava dispersar o foco da CPI, precisava investigar Estados e municípios, porque senão o relator apresentaria um relatório contra ele. Não há segredo nisso. Os senhores levantam suspeição a cada dia, até na primeira instância”, disse Renan Calheiros.

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